terça-feira, 27 de março de 2012

O Cajueiro de Humberto de Campos...

                  Meu tio, Raimundo de Oliveira Borges, carinhosamente conhecido no seio da família por tio Mundinho, gostava muito de escrever. Em seu livro Árvore Amiga (Ecologia e História), editado pelo Instituto Cultural do Cariri, Crato, Ceará, nos presenteou com um texto do escritor Humberto de Campos, que diz muito do nordestino que deixa sua terra em busca do saber, crescer na vida, almejando um destino digno para sua existência.

                  Fazendo uma ligeira busca na internet, encontrei  uma foto recente desta árvore que foi plantada pelo escritor no ano de 1896. O Jornal da Parnaíba, diz que Parnaíba, a mais importante cidade do litoral piauiense, com 145 mil habitantes, preserva até hoje um cajueiro plantado há 115 anos pelo escritor Humberto de Campos. A área onde fica a árvore, na Rua Coronel José Narciso, foi tombada como patrimônio histórico municipal. (http://jornaldaparnaiba.blogspot.com.br/2011/12/o-cajueiro-do-poeta.html).
                Quando nos primeiros dias da adolescência, iniciando o curso ginasial em Juazeiro no Norte, Ceará, li, como que devorando as palavras, alguns livros da coleção Conselheiro XX, deste importante autor maranhense. Esta coleção fazia parte da biblioteca de minha tia Lindalva Machado, professora de Português da Escola Normal Rural de Juazeiro, onde eu estudava. 
                   Vou brindar você do Ser Livre com uma parte do texto de Humberto de Campos, o plantio do cajueiro.
                     "No dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda ainda cheirando a cal, a tinta e barro fresco, ofereceu-me a Natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser uma árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas úmidas e avermelhadas, as quais eram como duas jóias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre.
               - Mamãe, olhe o que eu achei! Grito, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o monstrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida. - Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca...
                Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é uma lingua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou".
               

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