Uma meditação muito simples... E poderosa...

Não sei o que dizer, vou deixar as palavras conduzirem a nossa conversa. Não posso dizer que é uma conversa, é mais um monólogo. Vou arrumando as letras uma junto da outra e deixando o sentido das frases por conta de uma força maior que a tudo permeia e em tudo se encontra. Não sou eu que passo o recado, permito que ele se apresente naturalmente.
A vida tem seus altos e baixos e é bom navegar num mar assim, tudo fica mais emocionante. Um espaço novo se abre sempre que o velho se despede. Estar presente quando isto acontece nos mostra que o sentido da vida não está em nossas mãos. Sendo assim, meu conselho diz que é melhor relaxar.
Pra relaxar, observe o ar que entra, inspire profundamente;
observe o ar que sai, expire profundamente...
Dê atenção ao ar que entra...
Dê atenção ao ar que sai...
Se concentre nas narinas, observe calmamente...
Calmamente...
Mais profundamente...
Assim...
Assim...
...

No instante tudo é perfeito, é puro prazer...

          O tempo não existe, isto é verdade, a mais pura verdade. O que é real é o instante, o instantâneo, o agora como diz Eckart Tolle. Lembro-me que meu pai chamava fotografia de instantâneo. Pois bem, a vida só é real no instantâneo. Isto parece incompreensível para a mente que entende a vida como um processo, que começa com o nascimento e termina com a morte. Para aquele que não morreu, a vida mental se completa com o futuro.
          A meditação, aí você pode usar qualquer técnica, aquela que mais te agrade, te dá a compreensão do que é o momento presente, o instante, o agora. Falo da meditação porque foi através dela que pude compreender o que isto significa.
          No instante, no momento presente, a vida se reveste de um significado ímpar, de pura beleza, imagino seja como se estivéssemos surfando no topo de uma onda que nunca se quebra, nunca se desfaz. É bem provável que a atração por este tipo de esporte se justifique também por esta experiência meditativa, o encontro com a verdadeira vida, o êxtase vital.
          No instante tudo é perfeito, respira-se a paz eterna, é puro prazer. A bem aventurança preenche cada espaço do viver.

Procuro uma mágoa que seja dentro de mim e não encontro, me encanto...

          Estou chegando aos sessenta e oito anos de idade, tive em toda minha vida duas pessoas que deixaram de falar comigo, me dirigir a palavra, quando criança a gente chamava isto de se intrigar. Fiz dois intrigados durante este tempo.

          A primeira pessoa foi um amigo do meu pai. Não sei por que, meu pai nunca me disse a razão, eles terminaram uma grande amizade e deixaram de se falar. Este senhor não mais falou com toda família. Nunca tive um inimigo, sempre gostei de fazer amigos e esta atitude deste senhor me incomodou muito. Insisti várias vezes em retomar pelo menos o cumprimento formal, um bom dia, uma boa tarde, mas ele nunca respondia, se fazia de surdo, nem olhava em minha direção. Simplesmente me calei também, respeitei sua mágoa.

         A segunda pessoa foi uma ex-colega de trabalho. Quando a encontro ela desvia o olhar, faz que não me conhece. Respeito também sua atitude e procuro não incomodá-la com uma satisfação que seja. Tenho uma suspeita do por que da sua rejeição à minha pessoa e me dou por satisfeito.

            É pena que estas duas pessoas não tenham tido a oportunidade de resolver suas mágoas internas e continuem se afastando das pessoas, guardando dentro de si um rancor que só doenças podem desencadear. Ser Livre passa por uma limpeza profunda nas marcas deixadas pelos relacionamentos da vida. Tive oportunidade de armazenar dentro de mim um arsenal de mágoas com uma capacidade de destruição muito maior do que qualquer bomba atômica, mas cuidei de limpar este departamento para que pudesse viver melhor a minha vida. Hoje, olho para as situações de desconforto porque passei, começando pela vida com meus familiares – pais, tios, irmãos, primos; no ambiente educacional – professores, diretores, disciplinadores, colegas; no campo profissional – chefes, colegas de trabalho, alunos e simplesmente dou uma grande gargalhada por tudo que a princípio me causou muita dor.

            Você pode me perguntar, mas isto aconteceu assim como um milagre? De uma hora para outra? Sem mais nem menos? Não, não foi assim tão fácil. Tive de fazer muita terapia, botar o lixo fora, sofrer muito por aceitar que estava em mim o problema, que o outro havia apenas tocado este furação aqui dentro. A meditação fez a sua parte suavizando tudo, abrindo as portas da compreensão. 
            Hoje, toda esta gente recebe de mim o retorno em forma de um carinho sorridente que brota de uma fonte inesgotável, capaz de tudo perdoar. Uma compaixão em forma de um prazer milagroso viaja por cada coração que chegou próximo do meu e me diz que tudo se dissolveu e só bonanças são os frutos colhidos das relações vividas. Procuro uma mágoa que seja dentro de mim e não encontro, me encanto. 

O presente que Você me deu...

O presente que Você me deu, guardo com muito carinho.

Olhar na direção oposta, vislumbrar um outro mundo, até então desconhecido.

Minha cabeça dura não entendia, tive de abandoná-la, viajei noutro rumo, sem bússula mesmo.

Aí, pude descobrir, através da experiência, o que Suas palavras apontavam.

Agora, o silêncio me acolhe, me conforta, diz da beleza que Você é. 

Que mundo nós criamos...

Estava pensando comigo mesmo quando perdi o contato com a minha criança. Não sei porque, mas quando se é criança se quer ser gente grande. Não nos ensinaram a curtir por inteiro o tempo de infância. Ouvi muito expressões como: quando você crescer vai poder fazer isto e aquilo, agora não; isto não é para crianças; não é conversa para vocês, vão crecer; e por aí vai...
O mundo infantil era muito inseguro, havia policiamento para tudo quanto é lado - pai, mãe, secretarias, tios, tias, avós, amigos de toda esta cambada, professores, diretores, todo mundo da escola - os adultos, em geral. Para que ser criança? Melhor crescer e pertencer ao mundo dos que mandam, dos que sabem.
Cresci e procurei esconder a minha criança, sempre que ela se manifestava. Isto é ridículo! Infantil! Quando é que você vai crescer?
Escondia mais e mais a pobre coitada.
Até que um dia descobri um bocado de crianças já de barba, algumas mulheres já feitas, fazendo todo tipo de asneiras e os que estavam em volta se divertindo muito. As crianças mesmo se identificavam com o que estava acontecendo, talvez não soubessem que os adultos precisassem "tomar umas e outras" para soltar seu lado infantil, sua criança engaiolada. Aquele espetáculo é permitido, sem exageros, é claro.
Que mundo nós criamos!

Uma eterna fonte... É o que sou...

Estar comigo e curtir a mim mesmo, estar junto de um espaço que só eu posso mergulhar.

Uma solidão preenchida de prazer, de algo novo, sempre renovado, uma eterna fonte.

Ser Livre passa por momentos assim, de muita paz, de algo inexpressivo.

Cuidar, cuidar e cuidar...

Um sopro do Universo é vital, apenas acolho.

Dou-me por vencido, me entrego.

Uma eterna fonte...

É o que sou...

A vida parece ser feita de altos e baixos...

          Há uma sombra no meu caminho, imagino ser alguma coisa não resolvida, perdida no meu passado. Fico imaginando o que deve ter deixado marcas tão profundas, não consigo identificar. Dou um passo adiante e procuro enxergar melhor, ver as coisas de um outro ângulo. Infelizmente, nenhuma luz. A tristeza é minha companheira, está aqui do lado, esperando apenas um leve aceno. Apenas observo, apenas observo...
         Um onda de suavidade chega para sarar as pequenas feridas, cuidar para que tudo se harmonize, abrir as portas da compreensão. Neste instante, sinto um palpitar de felicidade, costurando um bem estar próprio dos seres completos em si, realizados.
         A vida parece ser feita de altos e baixos, relevos necessários para o crescimento dos seres vivos de passagem por este planeta, palco das tragédias, indispensáveis à lapidação daqueles que se arvoram a viver intensamente, dar o último salto em direção à eternidade da alma.

Foi um acidente de moto e não foi...

               Gosto de conversar nas esquinas da vida, jogar conversa fora. Numa destas, encontro um amigo com o braço enfaixado. 
               - O que aconteceu, pergunto.
               - Foi um acidente de moto e não foi.
               - Como é possível?
               - Saí de casa de moto, na estrada encontro um amigo e paro para conversar. Nos demoramos quase nada e quando fui sair procurei apoiar o pé no chão para dar a partida. Estava tão na beiradinha da estrada que o pé escorregou na ribanceira, perdi o equilíbrio e a moto tombou por cima de mim. Foi um acidente de moto e não foi.

Assim posso ver melhor...

Há sempre uma luz no caminho, quero confiar, me entregar a esta luz. Deixar que ela ilumine partes de mim que ainda estão sombrias. Uma claridade, mesmo que seja uma pequena réstia é suficiente. Simplesmente encorajar o brilho a se expandir em todas as direções, assim posso ver melhor.