sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Procuro uma mágoa que seja dentro de mim e não encontro, me encanto...

          Estou chegando aos sessenta e oito anos de idade, tive em toda minha vida duas pessoas que deixaram de falar comigo, me dirigir a palavra, quando criança a gente chamava isto de se intrigar. Fiz dois intrigados durante este tempo.
          A primeira pessoa foi um amigo do meu pai. Não sei por que, meu pai nunca me disse a razão, eles terminaram uma grande amizade e deixaram de se falar. Este senhor não mais falou com toda família. Nunca tive um inimigo, sempre gostei de fazer amigos e esta atitude deste senhor me incomodou muito. Insisti várias vezes em retomar pelo menos o cumprimento formal, um bom dia, uma boa tarde, mas ele nunca respondia, se fazia de surdo, nem olhava em minha direção. Simplesmente me calei também, respeitei sua mágoa.
         A segunda pessoa foi uma ex-colega de trabalho. Quando a encontro ela desvia o olhar, faz que não me conhece. Respeito também sua atitude e procuro não incomodá-la com uma satisfação que seja. Tenho uma suspeita do por que da sua rejeição à minha pessoa e me dou por satisfeito.
            É pena que estas duas pessoas não tenham tido a oportunidade de resolver suas mágoas internas e continuem se afastando das pessoas, guardando dentro de si um rancor que só doenças podem desencadear. Ser Livre passa por uma limpeza profunda nas marcas deixadas pelos relacionamentos da vida. Tive oportunidade de armazenar dentro de mim um arsenal de mágoas com uma capacidade de destruição muito maior do que qualquer bomba atômica, mas cuidei de limpar este departamento para que pudesse viver melhor a minha vida. Hoje, olho para as situações de desconforto porque passei, começando pela vida com meus familiares – pais, tios, irmãos, primos; no ambiente educacional – professores, diretores, disciplinadores, colegas; no campo profissional – chefes, colegas de trabalho, alunos e simplesmente dou uma grande gargalhada por tudo que a princípio me causou muita dor.
            Você pode me perguntar, mas isto aconteceu assim como um milagre? De uma hora para outra? Sem mais nem menos? Não, não foi assim tão fácil. Tive de fazer muita terapia, botar o lixo fora, sofrer muito por aceitar que estava em mim o problema, que o outro havia apenas tocado este furação aqui dentro. A meditação fez a sua parte suavizando tudo, abrindo as portas da compreensão. 
            Hoje, toda esta gente recebe de mim o retorno em forma de um carinho sorridente que brota de uma fonte inesgotável, capaz de tudo perdoar. Uma compaixão em forma de um prazer milagroso viaja por cada coração que chegou próximo do meu e me diz que tudo se dissolveu e só bonanças são os frutos colhidos das relações vividas. Procuro uma mágoa que seja dentro de mim e não encontro, me encanto. 

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