sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uma grande vitória...


               Há um momento na vida em que os filhos vão se tornando independentes dos pais. Lembro-me bem dos meus vinte anos, do último dinheiro que pedi para meu pai.
               Eu havia terminado o segundo grau, me considerava apto para assumir minha vida. Meu pai me deu cinquenta mil cruzeiros, isto foi em 1964. Paguei dois meses de pensão em Fortaleza e fui batalhar um emprego. Minhas qualificações: o segundo grau completo e um curso de datilografia.
               Chegando a Fortaleza comecei a procurar trabalho através de anúncios de jornais. Fazia testes e mais testes e nada. Até que um dia, numa livraria, fiz um teste para auxiliar de escritório e ganhei a vaga. Fui ganhar 135.000,00 (cento e trinta e cinco mil cruzeiros) o salário mínimo da época. Pagava 20.000,00 (vinte mil cruzeiros) de pensão e o resto dava para meus gastos e sobrava. Dei uma máquina de costura de última geração para minha mãe, comprei um violão, máquina fotográfica e uma máquina de datilografia - o computador da época. Dava também para minhas diversões - cinema, bailes, cervejinhas etc. e levar adiante meus estudos.
               No final do ano de 1964 passei no concurso da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará e fui ganhar cento e noventa mil cruzeiros. Estava rico. Em 1965 passei no vestibular e foi a minha maior alegria. Durante o curso continuei trabalhando e daí em diante nunca mais pedi dinheiro a meu pai.
               Uma grande vitória...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Eternas lembranças

Do mundo não levarei nada.
Da matéria me despedirei, apenas cinzas, devolverei ao solo, voltarei à natureza, de onde vim.
Uma luz, o que sou, continuará brilhando nos corações daqueles onde deixei a semente do amor.
Eternas lembranças...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A vida está na fonte, a fonte é vida...

A vida tem de ser descoberta, falo da vida na totalidade.
É pouco provável que se encontre a vida no mundo dos pensamentos. O pensar é útil, constrói, faz o mundo em volta acontecer.
Mas o pensar é pouco para construir uma vida. Há que se dar uma volta de cento e oitenta graus para que a vida aconteça.
Ir para dentro, vasculhar o desconhecido, encontrar a fonte.
A vida está na fonte, a fonte é vida...

sábado, 13 de outubro de 2012

Não estou pedindo demais, estou?

Posso tocar tuas mãos mesmo que as diferenças de pensamentos, comportamentos, idéias, modo de ver as coisas andem por caminhos diferentes?
Uma amizade verdadeira passa por cima de tudo isto e é bem maior do que nós mesmos.
Imagino um mundo onde as pessoas possam ser quem são e mesmo assim se abracem, se toquem, se amem sem nenhuma medida aferindo cada passo que se dê.
Há em mim uma vontade de ser eu mesmo, com minhas imperfeições, minhas fraquezas, minhas discordâncias e rodeado de amigos que me aceitem como sou.
Não estou pedindo demais, estou?

domingo, 23 de setembro de 2012

Com você não sou...

Quero estar contigo, te abraçar, sentir o cheiro de tua pele.
Nos perdemos, nos encontramos, somos um.
Assim  são nossos encontros, de puro encanto.
Apenas o silêncio de nós dois, felicidade.
Perto de você encontro algo em mim sem dimensão.
Com você não sou.

Gostar da vida é um dom.

Gostar da vida é um dom.
Gostar da vida começa com um namoro interno, uma mudança profunda, uma virada. 
O coração é pura satisfação, presença curtindo a mim e a vida.
O gostar é natural e a vida acontece com um sabor diferente.
Gostar da vida, amar, pura gratidão.
Melhor calar e deixar acontecer.

Momentos assim me afastam de onde quero estar...

Estou aqui sentado numa cadeira.
Descanso, apoio meu queixo no dorso da mão, fico pensativo.
O pensar me afasta daqui, me leva distante.
Passeio pelos mais longíncuos recantos.
Passei aqui, passei ali, fui lá adiante...
Distante fiquei por momentos infindos.
Longe de mim é o que senti, quase não consigo retornar.
Momentos assim me afastam de onde quero estar.

Me descubro sendo apenas o sorrir.

Custa crer que cheguei até aqui, o caminho é longo.
Passeio nos espaços de mim, vislumbro paisagens de todas as cores, de todas as nuanças.
Um pouco de mim neste universo é tudo, não sou nada, apenas um ser acontece.
Um sorriso me abraça, me aconchega, me faz presente.
Me descubro sendo apenas o sorrir.

Há momentos assim, curto.

Dou um pulo, sigo em frente.
Vou sem rumo, sigo à deriva...
Há momentos assim, paro, tomo uma respiração...
Faço um contato mais interno, mais profundo.
Um sentimento singelo é meu caminho.
Quase nada sobra de mim, um só silêncio.
Há momentos assim, curto.

Só sei que sou.

As palavras dizem muito pouco do que sou...
Quase nada.
O que sou é bem maior do que sinto...
É oceânico.
Não sei o que sou...
Só sei que sou.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Uma alegria, é tudo...


Tudo está em mim, o mundo todo.
Está em mim o teu abraço, o toque macio de tuas mãos.
Olho para dentro de mim e vejo um universo de memórias.
Olho na direção do agradável e um sorriso brota.
Momentos de luz, o espelho da alma mostra.
Encantos vividos, me encanta.
Uma alegria, é tudo.

Você é vida...


A alegria me toma todo, sinto.
Uma explosão suave, uma bruma.
Não avisa quando chega, é uma surpresa.
Quero tomá-la para mim, fazê-la parte de mim, desaparece, some.
Você é uma visita efêmera, intensa, suave.
Você é vida.

O que não sou, não sei...


Sou um todo, com tudo em volta.
Sou o cheiro da manga madura, sou teu sorriso, apenas sou.
Sou o graveto do marmeleiro a espera da chama, o fogo sou.
Sou o zumbido da abelha, sou o seu mel.
Sou tudo em você, teu cheiro, teu jeito, tuas manhas...
O que não sou, não sei.

sábado, 25 de agosto de 2012

Viver assim tem sabor...

Quando a esperança faz morada num coração livre, uma nova vida surge, você perde o rumo e o velho se despede.
O novo é algo que assusta e tem uma beleza toda especial. Os corajosos conhecem.
É delicioso degustar o novo a cada instante, sentir seu sabor, viver o presente.
A vida é cheia de oportunidades de mudanças, está a nos convidar constantemente a mudar de planos, perder o rumo.
Sinto a vida pulsar quando solto as amarras e me deixo levar pelo desconhecido.
Viver assim tem sabor.

domingo, 19 de agosto de 2012

Nunca vou dizer que sei...

Não posso dizer que sei, posso dizer apenas que andei por esta estrada, despercebido às vezes, por isto não posso dizer que sei.
O saber é consciência, presença consciente, cada palmo percorrido com o saber se dando conta de tudo.
Não posso dizer que sei, não posso.
Tenho me dispersado, me confundido, as imagens me enganam, por isto como posso dizer que sei?
Se olho não posso dizer que vejo, tudo me faz crer que vi, mas...
Nunca vou dizer que sei...

domingo, 22 de julho de 2012

Um sonho me tocou muito.

               Ontem tive um sonho muito bonito, nadava num lago de águas azuladas, transparente, acabara de chegar a um tronco imenso de árvore e perto de mim, meu filho Bruno, que neste momento se apoiava no meu ombro direito.
               - Pai, tive de acompanhá-lo, não posso viver distante de você, preciso de sua ajuda, dizia-me ele, um pouco triste, via no seu semblante.
               Mirava o fundo das águas e via que um dos galhos da velha árvore estava armado de espinhos afiados, a sorte é que se encontrava distante do nosso alcance, não podia nos causar qualquer dano, desde que permanecessemos flutuando. Isto me alcalmou.
               Acordei no meio da noite, tudo estava escuro, abri e cerrei imediatamente meus olhos e fiquei pensando no sonho. Alegrava-me a beleza do brilho das águas, da sua serenidade, da sua tonalidade azulada. Atormentava-me a preocupação do meu filho e neste momento abri meu coração em sua direção e pude abençoá-lo com toda a grandeza de um amor que guardo dentro de mim por ele.
               Sabe filho, você tem a chave deste velho coração e está em suas mãos dar a volta milagrosa capaz de fazer uma grande diferença em nossas vidas, 

Ser Livre é abrir o coração...

               Estou passando, neste momento, por um desânimo que me acompanha por um bom tempo em minha vida. Começo uma atividade, me empenho ao máximo e com o passar do tempo perco o ânimo. Tenho postado quase nada, passo dias sem abrir o blog e isto tem me incomodado.
               Penso em você que visita o Ser Livre em busca de novidades e fica sem saber porque quase não tenho escrito nada ultimamente. Devo a você uma explicação e para mim é importante abrir para você as portas das minhas dificuldades, das minhas limitações.
                Quero ir adiante, além desta restrição que me foi imposta por problemas emocionais que infelizmente não consigo identificar. Algo dentro de mim fica incomodado, uma frustração, como ir além disto?
                Com o blog Ser Livre que criei para abrir espaço à compreensão da vida, desta liberdade chamada alegria, de um mundo que me chama incessantemente, quero fazer diferente. Devo a você o respeito pela continuidade das postagens e manter com você um diálogo criativo capaz de espaços abrir espaços internos mesmo que me incomode.
                 Sinto-me livre, algo dentro de mim me acaricia e abre espaço à verdadeira compreensão do que se passa dentro de mim. Compartilho com você deste cantinho guardado dentro de mim e que muitos estragos já causou fazendo-me saltar do entusiamo sem limites para uma letargia frustrante.
                 Aos meus queridos seguidores este presente, a vontade de fazer diferente desta vez. Sei que posso contar com a ajuda de todos aqueles que com um simples clique cheguem a conhecer um pouco daquilo que está me incomodando agora.
                 Ser Livre é abrir o coração.

domingo, 1 de julho de 2012

Só experimentando...

               Estou escrevendo para você que acha que a vida tem sentido e o verdadeiro caminho nesta busca está em você mesmo. Custamos acreditar que seja assim mesmo e vamos por aí, batendo nas paredes da vida, sem qualquer rumo. Foi assim comigo até que encontrei o Mestre, uma luz na minha caminhada. Entreguei-me por completo, sem nenhuma sombra de dúvidas, tudo estava muito claro em tudo que Ele dizia, algo dentro de mim entrou em sintonia e até hoje esta voz ecoa no meu interior como uma luz clareando tudo em volta. Uma viagem sem retorno.
               Estou escrevendo porque sei que você é da mesma natureza de que sou feito, somos seres perdidos em busca de uma luz, e ela existe, está diante de você, está em você, você só precisa de um empurrãozinho. O Mestre é necessário para que você caia no abismo, sem nenhuma objeção, sem qualquer controle de sua parte. Quando isto acontece um novo mundo se abre para você, nada do que você achava que você era existe mais, e aí? Só experimentando...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Festa de São Pedro em Caririaçu 2012 - Café da manhã...

               A festa de São Pedro do ano de 2012 está terminando, VIVA SÃO PEDRO! Esta é a voz calorosa do nosso primo Pedro de Borginho, esbanjando alegria e satisfação em comemorar a festa do seu santo de nome, homenagem que ele leva muito a sério e retribui com muito gosto.
A oração de Padre Claudio alimenta a alma.
               Hoje, dia 28 de junho, desde as quatro horas da manhã, uma turma de muita garra e dedicação ao santo padroeiro, prepara o café da manhã da Rua Carlos Morais, no centro da cidade, acontecimento tradicional que é posto à mesa com muito carinho.
               Flávio Borges faz a decoração esbanjando arte, Ana Maria, a professora Ana, coordena uma turma de primeira no preparo das guloseimas e na dedicação ao servir o café com leite, sucos, bolos, tapiocas, salgados, tudo feito pelas mãos delicadas das senhoras que residem na tradicional rua dos festejos.
A arte de Flávio Borges e a organização de Ana Maria.
               Amanheci o dia agradecendo a São Pedro por tudo de bom que acontece comigo e sei que as suas mãos abençoadas têm muito a ver com tudo isto. Feliz, muito feliz mesmo, levei umas folhas de coqueiros da minha chácara, folhas de imbé, flores amarelas do meu jardim, bananas, um cacho de coco anão e limas do meu quintal. Tuco produzido pelas minhas mãos e pela ajuda carinhosa de minha querida Claudiana.
               As fotografias nascidas do meu olhar, das presenças paroquianas do Padre Claudio, da minha mãe Dona Zirô e de todos que festejaram juntos a manhã deste inesquecível dia, dizem muito mais do que possa eu colocar aqui em palavras. Uma gloriosa festa é o que almejamos para todos os "sãopedrenses" que aqui estão participando da festa e a todos que, mesmo distante, não esquecem sua terra querida.

Depois da alvorada uma procissão até o local do café da manhã.
A imagem de São Pedro fica na residência até o final da tarde.
Equipe organizadora.
Servir a todos é um prazer.
Todos se organizam em filas. A vontade de participar
é o que conta.
Padre Claudio começa com frutas.

sábado, 16 de junho de 2012

Invejável viver...

A velha copaíba deu muita sombra ali do lado do engenho de cana. Algumas gerações contemplaram sua densa copa, hoje reduzida a alguns ramos brotados pelo esforço da sobrevivência. Tronco firme, base sólida de uma vida de árvore que teima em morrer de pé. Parece não dar qualquer atenção ao tempo que passa sem que ela se dê conta. Os anos para a velha árvore passaram à margem de sua consciência plena de tranquilidade. Fico feliz por ter chupado cana sob sua densa sombra quando criança e hoje, de cabelos grisalhos desbotados pelo tempo, contemplar mais um dia de sua existência. Minha querida árvore, quero, todos os dias, te ver sempre plena  de vida. Invejável viver.

domingo, 13 de maio de 2012

O silêncio em mim mostra a grandeza do que é Ser Mãe...

Já falaram tantas coisas para as mamães, tantas canções!
Procuro dentro de mim algo que possa ser dito que ainda não foi pronunciado, não encontro.
Insisto, procuro como se nada tivesse sido expressado ainda para se dizer do amor que a mãe merece.
Nada de novo, palavras, palavras e mais palavras.
Sei que algo ainda não foi dito, insisto.
Não sei, penso...
O silêncio em mim mostra a grandeza do que é Ser Mãe...

Homenagem às minhas filhas mães...


Insisto em vê você pequenininha, oito dez anos, mãozinhas fofas junto às minhas.
Não te deixei crescer, permaneces criança no meu coração, te vejo assim.
Um abraço, um cheiro, sinto o perfume dos teus cabelos, a mesma menina, é assim que te sinto.
Você é mãe, cresceu mais do que devia para a minha medida de pai.
Uma lágrima me diz que suas mãos deixaram as minhas.
Te amo demais...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O mundo está mudando, digo eu...

Há quem diga que o mundo está mudando, não sei.
Contemplo em mim mudanças a todo instante, não sou o mesmo.
Se estou em constante mutação, o mundo acompanha meu caminhar.
Portanto, sei que o mundo não é o mesmo a cada segundo que vivo.
O mundo está mudando, digo eu...

Agradeço...

Amanhece em mim uma alegria, fico brincando, me divertindo.
É uma alegria do coração, está no peito, pousando como uma nuvem.
Viaja até o plexo solar, me acalma, me faz feliz.
Uma alegria de uma outra dimensão, fruto de instantes meditativos.
Sou com a alegria, há um encontro natural, um encanto.
A vida chegando e se expressando através de mim.
Agradeço...

sábado, 28 de abril de 2012

Você e a rosa...

Na minha janela uma rosa balança ao vento.
No meu coração ela é beleza, dessas que se transforma em prazer.
Suave prazer se espalhando, chegando até você.
Na minha janela te vejo sorrindo.
Como a rosa, tocas meu coração.
Ele responde dizendo "te amo".
Um sorriso me diz do prazer de ter na minha janela você e a rosa...

Sobras, sou e não sou...

Sobras de mim, vejo num canto.
Sobras da vida, dos encantos e desencantos, vejo ali no chão.
Sobras de tudo que tive que contornar, deixar passar, assumindo um viver conveniente.
Sobras de mim, vejo que sou eu, um eu menor, mesquinho talvez.
Sobras de um tempo vivido, mal vivido, quem sabe?
Sobras, sou e não sou...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Gosto do meu Mestre, algo em mim aprecia suas palavras...

               Gosto do meu Mestre, algo em mim aprecia suas palavras, bebe de Sua essência. Compartilho com você, leitor do Ser Livre, um texto de um de seus livros, Pepitas de Ouro (2). É um presente para você que chegou até aqui. Veja!
               "Uma das leis básicas da vida é que tudo o que é mais elevado é muito vulnerável. As raízes de uma árvore são muito fortes, mas as flores não são. As flores são muito vulneráveis - simplesmente uma brisa forte e a flor pode ser destruída.
               O mesmo é verdadeiro a respeito da consciência humana. O ódio é muito forte, mas não o amor. O amor é exatamente como uma flor - facilmente esmagada por qualquer pedra, destruída por qualquer animal.
              Os valores mais elevados da vida devem ser protegidos.
              Os valores mais baixos têm uma certa proteção própria.
              Uma pedra não precisa ser protegida, mas, bem a seu lado, a rosa na roseira tem que ser protegida. A pedra é morta, não pode tornar-se mais morta. Ela não precisa de proteção.
              Mas a rosa é tão viva, tão linda, tão colorida, tão atraente. Esse é o perigo - é a sua força, mas é também um convite ao perigo. Alguém pode colhê-la. Ninguém apanhará a pedra, mas a rosa pode ser colhida." Osho, Pepitas de Ouro (2).
                     O

O que sobra, é você...

          Osho é o Mestre do experimentar. Toda Sua indicação é no sentido de despertar mais e mais a consciência, observar, estar sempre atento. Às vezes parece muito duro observar o nosso comportamento, nossos pensamentos, os sentimentos. Dói muito, quase sempre.
          No observar, com uma atitude consciente, o que é falso desaparece.. Você procura o que estava te incomodando e não vê mais. No lugar, um vazio, um sentimento de paz. O simples fato de observar, prestar atenção, faz com que a negatividade desapareça. Se desaparece, você não é a negatividade.
          O que sobra, é você...

Sua essência é muito simples...

          Escrever seja lá o que for, escrever...
                 Deixar sair as palavras, os dedos vão tocando as teclas, aperto-as e deixo à deriva o que possa ser registrado na telinha.   Tenho uma folha virtual, é toda minha, branquinha, pronta para ser preenchida. Vou para o coração, um sorriso brota, vem de uma alegria que está ali, adormecida, calma, fonte de puro prazer. A alegria se transforma num sorriso, deixo sair, é para você.
           Sei que agora, as letrinhas que se transformaram em palavras, é um sentimento dentro do seu coração.
                  Para cada um que lê as palavras sei que o sentimento é único, pode até ser um sorriso também, mas de sabor diferente. É bom saber dos sabores de cada um e viver a alegria de só Ser.
           Neste instante você está conectado com o seu Ser, tenho certeza. Cuide bem dele, expresse-O sempre que tomar consciência d'Ele. Ele é você, sua essência.
                   Sua essência é muito simples...

sábado, 21 de abril de 2012

Parabéns Brasília...

               Brasília está aniversariando hoje, dia 21 de abril de 1912. Parabéns Brasília, lembro-me do dia que pousei no antigo aeroporto construído em madeira, de uma viagem a bordo de um Avro da Varig, com direito a lanche numa caixa de papelão - um farto lanche e bebida à vontade. Saí de Fortaleza no dia 24 de maio de 1970, com escalas em Terezina e Floriano no Piauí, viagem cansativa, mas cheia de esperanças.
               Engenheiro Agrônomo, formado pela Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará, iria assumir o cargo de Coordenador de Produção de Mudas da então Divisão de Parques e Jardins do Departamento de Viação e Obras da Novacap, órgão responsável pelas obras de urbanização da Nova Capital do  Brasil. Brasília estava dando seus primeiros passos na criação do que é hoje em termos de áreas verdes. Havia solicitado o apreço de um colega que lá trabalhava, Francisco Ozanan Correia, filho de Barbalha, cidade do meu cariri, havíamos concluído juntos o curso de agronomia. Ele logo atendeu meu pedido e no dia 26 de maio estava contratado e começando uma das atividades mais prazerosas da minha vida profissional.
               Formávamos uma equipe batalhadora, disposta, pronta para fazer de Brasília uma cidade diferente em termos de verde. Chefiava a Divisão um outro cearense de Fortaleza, Engenheiro Agrônomo Stênio de Araújo Bastos, acessorado pelo eficiente Rui de Figueiredo Malta, Agrônomo pernambucano formado pela ESALQ, um exemplo de pessoa humana.  Contávamos com o apoio de técnicos competentes como Tadeu Guido, Seu Toshio, Valdemar Miranda, José Pelles, Jaime, Raimundo Uchoa e muitos jardineiros e operários que faziam do trabalho a realização de um missão muito importante para a cidade - cobrir de verde o solo vermelho do cerrado que as máquinas teimavam em deixar a descoberto, cobrindo Brasília de poeira na época seca do ano e de lama na época das chuvas.
Da direita para a esquerda, equipe de agrônomos:
 José Wagner B. Machado, Fco. Ozanan C.C. Alencar,
Antonio Mendes Tabosa.
               Parabenizo Brasília e parabenizo também a todos que ajudaram a fazer da cidade um jardim, que faz de Brasília a maior área verde "per capita" do mundo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Osho mudou minha vida...

               Quando comecei a meditar, isto tem um pouco mais de 25 anos, eu o fiz com uma fé muito grande de que minha vida tomaria um rumo diferente. Eu era nervoso, impaciente, reclamava de tudo, muito pessimista. Olhava para as pessoas mais velhas e via que estas pessoas, à medida que envelheciam, eram mais infelizes e me passavam a ideia de  que a morte era o fim de tudo e eu via muito medo da morte em suas fisionomias. Aliás, nem gostavam de tocar no assunto.
               Então dizia para mim mesmo - não quero ser um velho assim, se eu tiver que ficar mais infeliz do que o que sou hoje, acho que não vou suportar chegar até o fim, tenho que fazer alguma coisa. Será que a felicidade existe? Questionava. Será que é só isto o que chamam de vida? Inquiria profundamente. Se é, não vale a pena ser vivida.
              Aí, um certo dia, encontro Osho, um velho indiano e fui até Ele. Tornei-me seu discípulo, recebi o nome de Swami Arpana Gyan, que significa "ofereça-se a Deus com sabedoria". Comecei a praticar seus métodos de meditação apropriados para a mente ocidental, as chamadas meditações ativas. Minha vida mudou, e mudou para melhor. Conheci vislumbres de felicidade, uma forma melhor de se ver a vida, de vivê-la intensamente e aí posso dizer que viver vale a pena e que envelhecer com sabedoria é caminhar para a vida eterna de braços abertos, sem medo da morte que na realidade é a nossa verdadeira liberdade.
              Osho nos leva a experimentar a vida, vivê-la na sua intensidade, descobrir para que viemos aqui neste lindo planeta. Na página 55 do Seu livro "O que é meditação", Ele diz: Meditação é consciência alerta... cada situação tem de se tornar uma oportunidade para meditar. O que é meditação? Tornar-se alerta do que você está fazendo, do que está acontecendo com você.
               Alguém o insulta: fique alerta. O que está acontecendo a você quando o insulto o atinge? Medite sobre isso; isso muda toda "gestalt". Quando alguém o insulta, você se concentra na pessoa: "Por que ela está me insultando? Quem ela pensa que é? Como posso me vingar? Se a pessoa é muito poderosa você se rende, você começa a abanar o rabo. Se ela não é muito poderosa e você vê que ela é fraca, você salta sobre ela. Mas nisso tudo você se esquece totalmente de si mesmo, o outro se torna o foco. Isso significa perder uma oportunidade de meditação. Quando alguém o insulta, medite.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Chega de mentiras!

          Um pai do século XXI tem de ser mais um amigo para seu filho, para sua filha, do que um mero disciplinador. Ontem conversei com uma moça de 18 anos que dizia estar com ódio da vida, desejaria sumir. Fiquei preocupado, procurei abrandar os seus sentimentos com palavras de compreensão e de amor.
         - O que a vida te fez? Perguntei.
         - Tudo, minha vida é uma droga, nunca posso fazer nada, meu pai não deixa, isto é vida? Me falou, parecia assustada, encurralada.
         O pai, conservando os padrões recebidos de seus pais, mantém a filha "sob controle", exercendo a autoridade que lhe foi conferida pela instituição "família". É triste que estas coisas ainda aconteçam nos tempos da globalização, onde tudo se sabe, onde tudo se conhece.
         A filha só pode namorar depois de formada, "ou namora, ou estuda". Minha mãe dizia assim também para suas filhas, na década de 1960, quando os hormônios da puberdade começava a circular no corpo jovem de moças donzelas de uma época que passou, mas que foi conhecida como o início da independência da mulher.
         Nos Estados Unidos as moças começavam a "ficar", a viver os primeiros passos da igualdade de gêneros. Nós ainda nos mantínhamos obedientes, esperando casar para viver uma vida sexual plena. Para o homem era permitido frequentar os bordéis em busca da satisfação da carne.
         Não compreendo como um pai possa cometer tamanha violência nos dias de hoje. Senhores pais, por favor abram um espaço ao diálogo com seus filhos, com suas filhas, ou vocês vão perdê-los para sempre. Vai abrir um espaço sem tamanho entre vocês e a loucura dos jovens perdidos será o resultado final.
         Fico triste com tantos jovens tomando "remédio controlado", "tarja preta" como se diz, simplesmente porque não são compreendidos.
         Os tempos mudaram, mudemos nós, os pais e os avós dos dias de hoje. Do contrário, vamos formar uma geração de pessoas dependentes de drogas - as prescritas pelos especialistas e as disponíveis do lado de sua casa, na praça de sua cidade, nos bares da vida, em qualquer esquina para onde estamos levando nossos filhos, nossos netos.
         Abram os seus corações, sintonizem com os corações aflitos desta juventude que só deseja viver, mas que preferem morrer a continuarem vivendo atrelados às normas estabelecidas por um passado que já causou muito sofrimento, a nós mesmos, os pais e os avós da era presente.
         O diálogo, por difícil que seja, por desconfortável que pareça, ainda é o caminho para o entendimento entre as gerações. Chega de mentiras!

E Jesus morreu para nos salvar...

               E Jesus morreu para nos salvar... Salvar de que? De nós mesmos, das nossas imperfeições, da nossa inconsciência.
               A mente é o inferno, a fonte de todos os "pecados", quando damos a ela as rédias da nossa direção. Acessar o coração e beber de sua fonte é o caminho da "salvação", da plenitude, do prazer de viver. No coração está a fonte da verdadeira vida, o sentir profundo, capaz de tudo entender, de dar um rumo certo para o seu viver.
              Uma vida meditativa é o caminho, trilhar os passos do "si mesmo", o verdadeiro dono de sua vida, aquele que é capaz de trazer para você a paz que a tudo permeia, fazendo da mente uma energia limpa, isenta de toda poluição. Esta é a verdadeira busca da perfeição do Ser Humano, do Ser Livre...

Viver o silêncio...


Às vezes quero me calar, não dizer mais nada, simplesmente ser...

O silêncio é acolhedor, suave, inebria a alma, é de uma paz adimensional.
Ser com o silêncio, ser o silêncio, abraça-lo na sua totalidade, lhe dar as boas vindas...
Tudo acontece e você não é mais.
Uma sutil felicidade, destas que nos deixa rindo à toa, simplesmente sendo...
Uma expressão viva da alma.
Quero a todos vivendo assim...
É uma viagem em solitude, de mãos dadas com você.



domingo, 1 de abril de 2012

Não sei o que dizer...

Não sei o que dizer, o não dizer diz muito mais.
Neste espaço do não dizer rola muita coisa, um sentir sem limites, que se lança em todas as direções.
Melhor que dizer alguma coisa, falar alguma bobagem, se enveredar por caminhos tortuosos.
Não, prefiro o não dizer.
Risos, gargalhadas, um só prazer explode, vai além das margens que procura limitar a vida.
Dou asas, solto as rédeas, vou aos poucos me acalmando.
Me envolvo agora na suavidade que assenta as brumas do meu coração.

Isto é viver! Isto é Ser Livre!

Só sei falar de amor, de alegria, de bem-aventurança. Tudo isto explode dentro de mim, sem nenhuma direção.
Você está aí? Se há algo vivo dentro de você,  este o endereço certo.
Uma pequena chama, ainda que no meio de um grande vendaval, de uma grande tormenta, é o suficiente.
O endereço é você, beba! Você é especial para mim, para o grande universo amoroso.
Quero banhar você nesta chama, me unir a você, sentir sua alegria também.
Vamos dançar o prazer de viver...
Me dê suas mãos, tome as minhas, que tal deixar acontecer o primeiro passo!
O segundo, o terceiro, nos perder na música que soa da grande orquestra da vida!
Se permita e se solte totalmente...
Isto é viver! Isto é Ser Livre!

sábado, 31 de março de 2012

Adeus, meu cajueiro!

            Amadurecer é uma arte, saber envelhecer é uma grande virtude. A vida está aí para fazer acontecer os seus sonhos, desde que você conspire de forma favorável. Formar ramificações sadias, abrir seu coração num gesto amoroso a quantos se aproximarem em busca de alívio. 
          "Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina corre-lhe do tronco mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro pálido para as pipiras morenas. É um cajueiro moço e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal.
         Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste:
         – Adeus, meu cajueiro!
         O mundo toma-me nos seus braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei de Brobdingnag com a fragilidade do capitão Gulliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo.
         – Meu cajueiro, aqui estou!
         Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem: ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às gali­nhas sem dono... Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco... Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, em baixo, a vasa e a podridão!
         – Adeus, meu cajueiro!
         E lá me vou outra vez e para sempre, pelo mundo largo, onde hoje vivo, como ele, com os pés na lama, dando, às vezes, sombra aos porcos mas, também, às vezes, doirado de sol lá em cima, oferecendo frutos aos pássaros e pólen ao vento, e, no milagre divino do meu sonho, sangrando resina cheirosa, com o espírito enfeitado de flores que o vento leva, e o coração, aqui dentro, cheio de mel, e todo ressoante de abelhas"...

quinta-feira, 29 de março de 2012

O cajueiro dá frutos...

               A busca do saber para mim foi de muito sofrimento. Se por um lado algo dentro de mim levantava-me o ânimo, fazia-me feliz a cada dia eu aprendia mais e mais sobre a vida, a saudade de casa, numa outra vertente, abria uma fenda sem tamanho no meu coração. Um sentimento de realização, de preenchimento, era o conforto para todas as perdas, naquele momento transformadas  em saudades.
               Lembrava-me da minha mãe, meus irmãos, minhas brincadeiras, meus amigos, o paraíso onde havia nascido e vivido até os dez anos de minha existência. Toda lembrança se transformava em lágrimas que às escondidas deixava rolar sobre a face. 
               Agora, lendo as lembranças de infância de Humberto de Campos através deste belíssimo capítulo de sua vida, algo dentro de mim é revivido com uma sonoridade própria de uma ópera acabada, pronta para ser executada. A orquestra afina os instrumentos. 
                 "Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
         – Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
         Ele não diz nada, e eu me vou embora.
         Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças...”
         Há, se bem me lembro, uns versos de Kipling, em que o Oceano, o Vento e a Floresta palestram e blasfemam. E o mais desgraçado dos três é a Floresta, porque, enquanto as ondas e as rajadas percorrem terras e costas, ela, agrilhoada ao solo com as raízes das árvores, braceja, grita, esgrime com os galhos furiosos, e não pode fugir nem viajar... Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua ideia.
         E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?

terça-feira, 27 de março de 2012

O cajueiro cresce...

               O cajueiro de Humberto de Campos foi por ele lembrado no seu livro de Memórias, capítulo XXXII, Amigo de Infância. O cajueiro cresce mais rápido do que ele, o sustenta nos seus galhos e dá asas a sua imaginação.
               "O meu cajueiro sobe, desenvolve-se, prospera. Eu cresço, mas ele cresce mais rapidamente do que eu. Passado um ano, estamos do mesmo tamanho. Perfilamo-nos um junto do outro, para ver qual é mais alto. É uma árvore adolescente, elegante, graciosa. Quando eu completo doze anos, ele já me sustenta nos seus primeiros galhos. Mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos braços o seu irmão de leite. Até que, um dia, seguro da sua rijeza hercúlea, não o deixo mais. Promovo-o a mastro do meu navio, e, todas as tardes, lhe subo ao galho mais empinado onde, com o braço esquerdo cingindo o caule forte, de pé, solto, alto e sonoro, o canto melancólico da Chegança, que é, por esse tempo, a festa popular mais famosa de Parnaíba:
         Assobe, assobe, gajeiro,
         Naquele tope real...
         Para ver se tu avistas,
         Otolina,
         Areias de Portugal!
         Mão direita aberta sobre os olhos como quem devassa o horizonte equóreo, mas devassando, na verdade, apenas os quintais vizinhos, as vacas do curral de Dona Páscoa e os jumentos do sr. Antônio Santeiro, eu próprio respondo, com minha voz gritada, que a ventania arrasta para longe, rasgando-a, como uma camisa de som, nas palmas dos coqueiros e nas estacas das cercas velhas, enfeitadas de melão São Caetano:
         Alvíssaras, meu capitão,
         Meu capitão-general!
         Que avistei terras de Espanha,
         Otolina,
         Areias de Portugal!
         A memória fresca e límpida reproduz, uma a uma, fielmente, todas as passagens épicas, todas as canções melancólicas e singelas da velha lenda marítima com que o majestoso mulato Benedito Guariba, uma vez por ano, à frente dos seus caboclos improvisados em marujos portugueses, alvoroça as ruas arenosas da Parnaíba. O vento forte, vindo das bandas da Amarração, dá-me a impressão de brisa do oceano largo. O meu camisão branco, de menino da roça, paneja, estalando, como uma bandeira solta. O cajueiro novo, oscilando comigo, dá-me a sensação de um mastro erguido nas ondas. E eu, sugestionado pela imaginação, via eu via! as vagas rolando diante de mim, na curva do horizonte, onde o céu e o mar se beijam e misturam, as terras claras de Espanha, e areias de Portugal.
         Pouco a pouco, a noite vem descendo. Um véu de cinza envolve docemente os coqueiros dos quintais próximos. Os bezerros de Dona Páscoa berram com mais tristeza. As vacas, apartadas deles, respondem com mais saudade. Os jumentos do sr. Antônio Santeiro zurram as cinco vogais e o estribilho ipsilon marcando sonoramente as seis horas. Os do sr. Antônio de Monte, ao longe, conferem e confirmam o zurro, o focinho para o alto, olhando o milho de ouro das primeiras estrelas. E eu, gajeiro de uma nau ancorada na terra, desço, tristemente, do folhudo mastro do meu cajueiro, sonhando com o oceano alto, invejando a vida tormentosa dos marinheiros perdidos, que não tinham, pelo menos, a obrigação de estudar, à luz de um lampião de querosene, a lição do dia seguinte.

O Cajueiro de Humberto de Campos...

                  Meu tio, Raimundo de Oliveira Borges, carinhosamente conhecido no seio da família por tio Mundinho, gostava muito de escrever. Em seu livro Árvore Amiga (Ecologia e História), editado pelo Instituto Cultural do Cariri, Crato, Ceará, nos presenteou com um texto do escritor Humberto de Campos, que diz muito do nordestino que deixa sua terra em busca do saber, crescer na vida, almejando um destino digno para sua existência.

                  Fazendo uma ligeira busca na internet, encontrei  uma foto recente desta árvore que foi plantada pelo escritor no ano de 1896. O Jornal da Parnaíba, diz que Parnaíba, a mais importante cidade do litoral piauiense, com 145 mil habitantes, preserva até hoje um cajueiro plantado há 115 anos pelo escritor Humberto de Campos. A área onde fica a árvore, na Rua Coronel José Narciso, foi tombada como patrimônio histórico municipal. (http://jornaldaparnaiba.blogspot.com.br/2011/12/o-cajueiro-do-poeta.html).
                Quando nos primeiros dias da adolescência, iniciando o curso ginasial em Juazeiro no Norte, Ceará, li, como que devorando as palavras, alguns livros da coleção Conselheiro XX, deste importante autor maranhense. Esta coleção fazia parte da biblioteca de minha tia Lindalva Machado, professora de Português da Escola Normal Rural de Juazeiro, onde eu estudava. 
                   Vou brindar você do Ser Livre com uma parte do texto de Humberto de Campos, o plantio do cajueiro.
                     "No dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda ainda cheirando a cal, a tinta e barro fresco, ofereceu-me a Natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser uma árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas úmidas e avermelhadas, as quais eram como duas jóias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre.
               - Mamãe, olhe o que eu achei! Grito, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o monstrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida. - Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca...
                Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é uma lingua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou".
               

sábado, 24 de março de 2012

Eu tive um ídolo em minha vida, é uma memória viva dentro de mim.

               Todos nós temos um ídolo, ou quase todo mundo tem, é o que penso. Ainda criança guardava comigo uma admiração muito especial por uma pessoa de minha família, meu tio, irmão do meu pai. A imagem que ele me passava era de um jovem alegre, de bem com a vida, culto e de invejável independência financeira. Se dava bem com as mulheres e sempre estava bem acompanhado de uma bela senhorita. 
               Seu nome, Antonio Nogueira Machado, Toinho era como todos o chamávamos. Residia no Rio de Janeiro e quase todas as férias passava no seio da família aqui em Caririaçu. Gostava principalmente de caçar, cavalgar e se divertia com os amigos, onde juntos tomavam cerveja sempre acompanhada de um assado que um e outro traziam para satisfazer seu paladar e agradá-lo da melhor maneira possível. Sua estada na pequenina Caririaçu era uma festa, era assim que eu via e sentia quando meu tio aqui estava.
                Meu pai, minha mãe e todos nós esmerávamos em agradá-lo da melhor maneira possível. Criança, meio sem jeito na sua presença, fitava aquela figura singular com grande admiração. Pensava comigo - quando crescer quero ser como meu tio, vou estudar, me formar, arranjar um bom emprego e viver bem, assim como ele. Aquela sua imagem de sucesso em tudo na vida estava sempre viva na minha memória. Meu pai foi o único de todos os irmãos vivos que não concluiu os estudos, vivia da agricultura, sempre com dificuldades financeiras, uma vida "aperriada" como se costumava dizer. Não, eu não queria uma vida como esta, queria ser como meu tio Toinho e esta vontade, muito forte dentro de mim, acompanhou-me por toda formação da minha personalidade.
               Meu tio nunca soube disto, contei apenas para algumas pessoas amigas e hoje quero levar a todos vocês este meu sonho de vida, espelhada numa pessoa a quem ainda hoje tenho uma grande admiração. Esta imagem de sucesso está viva dentro de mim e agradeço de coração a Antonio Nogueira Machado por ter-me guiado, sem qualquer intenção de sua parte, apenas pelo seu comportamento exemplar, demonstrando o carinho pela família, amor pela sua cidade e alegria de viver. 
                Ter um ídolo, para mim, fez-me realizar o grande sonho de minha passagem terrena. Estou muito satisfeito comigo mesmo e passaria com prazer pelo mesmo caminho que trilhei até aqui. A Existência foi muito generosa comigo e me deu tudo na medida dos meus sonhos. Sou muito agradecido.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Assim, não existe talvez...

Talvez esteja eu agora muito próximo de você.
Digo talvez porque sem você só reconheço em mim dúvidas...
Um olhar, que seja seu.
Um sorriso, que venha de sua face.
Um abraço, que seja na sua medida, eu conheço.
O brilho da vida está em mim, com você.
Nos contemplamos, nos conpletamos...
Assim, não existe talvez.

Sou risos...

Assento dentro de mim a dor sofrida.
Uma lágrima diz do momento vivido, rola suave agora.
A dor sofrida me deixou mais real, mais humano, mais amadurecido.
Um suave abraço me dou, me conforta.
A dor sofrida agora é um sorriso suave, contemplo no horizonte a beleza do momento que se chega, agora, depois da dor sofrida.
Sou risos...

Mas, aqui para nós, não estou satisfeito não...

Sou assim, me disseram que eu era assim.
Acreditei, e faço deste assim a minha vida.
Vida?
Sim. Continuam me dizendo que a vida é assim mesmo.
Continuo acreditando, junto com os outros.
Me disseram que todo mundo é assim.
E termino acreditando que seja assim mesmo, se é o que vejo em volta de mim!
Mas, aqui para nós, não estou satisfeito não...

terça-feira, 13 de março de 2012

O novo não está mais aqui...

          Com os cabelos já grisalhos, o corpo mostra as alterações próprias do desgaste do tempo. É preciso uma compreensão muito grande por parte de quem chega a galgar o patamar nos sessenta anos de idade. Entender que os sinais dos tempos vividos vão se incorporando e limitando os passos na caminhada apressada que deve ficar para trás. 
          As visitas preventivas aos médicos, aos especialistas da saúde e a utilização dos recursos disponíveis a uma vida mais saudável devem ocorrer com mais freqüência. Devemos até fazer uma boa amizade com estes profissionais. Isto é qualidade de vida e está disponível, embora que para a maior parte da população seja uma busca de grande sofrimento. Filas cansativas e maçadas no atendimento são uma limitação a uma maturidade mais saudável.
          Se você pode se cuidar e aí incluo também exercícios físicos acompanhados por profisionais competentes, rotinas semanais nas academias, caminhadas etc. o faça, para o seu próprio bem, porque é natural que o corpo vá aos poucos se cansando e a manutenção da saúde depende, principalmente, de uma atitude preventiva, mais do que curativa.
          Fico feliz que esta compreensão tenha se incorporado à minha vida porque, só assim, posso atravessar a caminhada derradeira em paz com meu corpo, amigo das mudanças que aos poucos vão chegando e deixando marcas indeléveis, próprias dos anos vividos. Viver mais passa por um entendimento profundo e uma grande aceitação de que o novo não está mais aqui.

sábado, 3 de março de 2012

Um viver mais sábio...

Me surpreendo cada vez mais com o ser humano. A gente vai amadurecendo e graças às determinações divinas, à corrente viva do existir, vamos abrindo o coração à compreensão do outro, daquela pessoa que está do nosso lado. A mente muitas vezes assume o papel de juiz e vai, mesmo sem o nosso consentimento, se esmerando em julgamentos nem sempre justos. É bom se dar conta disto e abrir espaço à aceitação do outro como ele é. Parece muito difícil agir assim, mas o caminho da perfeição nos leva a dar um passo decisivo nesta direção. Às vezes é desconfortante, desajeitado, difícil mesmo agir assim. A arrogância, que mora bem do lado, muitas vezes toma a frente e destrói tudo, distorce as coisas e passa a perna na humildade que se apaga e tudo acontece exatamente ao contrário.
Vejo isto acontecer diariamente e as relações humanas vão perdendo o brilho por atitudes tão sem sentido, simplesmente pela falta de atenção que se deveria dar as atitudes do coração, deixando à mente o seu papel de pensar num viver mais sábio.

Um só ser é o que somos...

A cada dia chego mais perto de mim mesmo e algo suave me diz o que sou. A calma é minha natureza mesmo quando a turbulência faz o seu estrago. Sorrio de contentamento porque sei que a minha natureza não é o que eu pensava ser. Gargalhadas de satisfação me apresenta ao mundo como um ser especial, assim como todoas vocês o são. Espalmo minhas mãos em direção a todos os amigos e sinto a leveza do estar juntos. Um só ser é o que somos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A ternura do que somos...

A ternura do que sou é muito suave, uma paz sem limites.
Jorra incessantemente, pura, cristalina.
Te dou as mãos, a ternura amacia o toque, chega a teu coração e nos faz unos.
Na ternura do que somos nos confundimos um com o outro, desaparecemos por completo, apenas o amor se faz sentir.

O silêncio em mim...

O silêncio em mim é uma companhia inseparável. É aconchegante, transborda e me mostra a essência do que sou.
No silêncio do que sou, não existo. Apenas o silêncio é.
O ar entra calmamente, esvazia-se sem deixar pegadas, o silêncio permanece, intocado, vivo...

Sinta Mais. Pense Menos...

          Demorei muito a entender tudo isto até que  um dia, no meio da Meditação Dinâmica, mergulhei no coração e daí em diante, tudo mudou em minha vida. Fazia tudo através do pensamento, era uma loucura. O coração me fez mais centrado, mais calmo, mais perto da realidade. Osho, meu Mestre, me jogou neste espaço e as palavras deste texto dizem tudo, ou quase, é bom experimentar.
               "Pense menos, sinta mais. Intelectualize menos, intua mais.
               Pensar é um processo decepcionante, ele faz você sentir que está fazendo grandes coisas. Mas você está apenas construindo castelos no ar. Pensamento nada mais são do que castelos no ar.
               Sentimentos são mais materiais, mais substanciais. Eles o transformam. Pensar sobre amor não vai ajudar, mas sentir amor está fadado a mudá-lo. Pensar é muito apreciado pelo ego, porque o ego se nutre de ficções. O ego não pode digerir qualquer realidade, e o pensar é um processo fictício...
               Mude da mente para o coração, do pensar para o sentir, da lógica para o amor. E a segunda mudança é do coração ao ser - porque ainda há uma camada mais profunda em você, onde os sentimentos não podem alcançar. Lembre-se destas três palavras: mente, coração, ser. O ser é a sua natureza pura. Em volta do ser está o sentimento e em volta do sentimento está o pensamento. O pensar está muito longe do ser, mas o sentir está um pouco mais perto; ele reflete alguma glória do ser. É como num por do sol, o sol sendo refletido pelas nuvens e as nuvens enchendo-se de belas cores.
                 Elas mesmas não são o sol, mas elas estão refletindo a luz do sol. Os sentimentos estão mais próximos do ser, assim eles refletem alguma coisa do ser. Mas tem que ir-se além dos sentimentos também. E entào o que é ser?
                 Não é nem pensar, nem sentir, é puro não-ser. Você apenas é". (Osho)