sábado, 14 de maio de 2011

UNIÃO

         Nós não estamos sozinhos. Há sempre uma mão que nos pede algo e uma outra que nos dá alguma coisa. Estamos todos unidos numa só harmonia. Somos como uma orquestra entoando um hino de amor, uma música de felicidade enchendo a todos os corações de alegria, esta chama que alimenta a nossa existência.
         Olhe do seu lado. Uma criança está sorrindo para você, e ela não pede nada, está lhe oferecendo um belo sorriso, os olhinhos dela diz tudo. É o próprio Deus sorrindo para você. E o que você faz? Sorri também? Lhe abraça? Agradece? É bom quando isto acontece, é bom quando a gente sorri junto, é ótimo quando nos unimos neste sorriso e descobrimos a nossa criança que ainda habita dentro de nós. Aí nos unimos, sentimos este sentimento de união.
         Veja do seu lado. É o seu amado, é a sua amada, esta pessoa que você escolheu para viver junto, e agora vocês estão juntos, unidos um no outro. Estão mesmo? É muito bom quando se está porque aí há um agradecimento selando esta união, abençoando este laço de amor. E tudo nesta casa é paz, harmonia, felicidade. Momentos de alegria, uma sensação agradável fazendo este laço de amor acontecer. Uma chama amorosa permeando o lar.
         Olhe do seu lado. É a sua mãe, é o seu pai. Já velhos, muitos anos vividos. Muitas experiências acumuladas, permeando cada ruga dos seus rostos. Uma luz de felicidade brilha nestes olhos que já viram tanto deste mundo. Ali, os dois, encostados na porta da cozinha, olhando para bem longe, num passado distante, relembrando o memento do seu nascimento, da sua chegada, a alegria de receber nesta casa mais uma pessoa, unindo agora mais um ser a esta família. E tudo está unido, tudo é um só coração.
         Veja agora o jardim. As plantas nos vasos. Balançam as folhas ao vento, agradecendo à vida, agradecendo os cuidados que você lhes dá. Cada gota d’água que recebem, cada palavra de carinho que ouvem, cada gesto de amor em sua direção. A união do homem com a natureza, cada um servindo ao outro, mantendo viva a chama do sentimento amoroso que a tudo transforma, que une tudo neste imenso planeta, nesta imensa galáxia, neste universo unificado por uma luz divina que a tudo permeia e a que chamamos Deus, Existência, Cosmos...


SENTIMENTO VIVO

           Um caju ali no chão, piso feito de pedra partida, quadriculando a calçada de um imponente edifício. Caminhava nas ruas de Fortaleza, cidade menina quando ali cheguei, provinciana mesmo, com direito a cadeiras na porta da rua no final das tardes, pessoas tranqüilas, sem pressa, botando conversa fora.
         Ao dobrar a esquina da Rua Antônio Augusto com a Avenida Santos Dumont quase piso num caju. Fruto pequeno, castanha minúscula, contrariando a robustez da planta-mãe – árvore enorme, impossível abraçar seu tronco.
         O primeiro impulso foi chutá-lo. Senti dentro de mim a presença de um menino brincalhão, acostumado a dar pontapé em tudo que via sobre o chão. Contive o garoto e voltei no passado daquele cajueiro. Vi seu dono plantando uma pequenina muda, sonhando colher mais adiante deliciosos frutos. E colheu. Criou filhos que brincaram nos galhos do cajueiro, desafiando seus limites. Vi o suco descer sobre suas barrigas nuas e senti o cheiro de castanha assando sobre o fogo ardente.
         Dei mais um passo, olhei para trás, minha intenção era sentir de perto aquela planta, cajueiro velho, testemunho de muitas mudanças, plantado ali Deus sabe quando, guardando em si as saudades de seu dono, proprietário de uma chácara, um lote, um pequeno terreno, hoje piso de um arranha-céus, desconhecido seu, plantado um outro dia na mente criativa de quem o planejou. E o cajueiro sorriu com a brincadeira dos homens, fazedores de plantas sem almas, sem folhas balançando ao vento, sem o jeito vivo de sorrir e se encantar com a vida.
         Olhei suas raízes, estavam sadias, alguns cortes rasos na casca pelo descuido dos que fizeram a calçada. Mas fiquei satisfeito com o espaço que lhe reservaram, embelezando a Avenida Santos Dumont – um sonhador também, ousado na sua tentativa de voar com os pássaros. Aí ouvi o cantar de um sanhaço satisfeito com as delícias de um caju no pé, que acabara de bicar.

Você e Você

Quem sou, não sei. Ah se soubesse quem sou talvez me aceitasse um pouco mais, pudesse cuidar melhor de mim, encontrar mais espaços no dia-a-dia para ficar comigo mesmo. Pareço fugir destes pequenos momentos pois sempre procuro uma ocupação e aí vou me distraindo na vida, nem sei se vivo...

Frutos da lama...

 “Comemos uma deliciosa fruta em Fatu-Hiva, uma das remotas ilhas Marquesas, no sul do Pacífico. Demos uma segunda olhada na árvore que produzia tal fruta, e perguntamo-nos como poderia ela dar aquela maravilha, tão diferente em forma e em paladar dos frutos de outras árvores.
O pedaço ou a lasca de uma laranjeira não fazem muita diferença de um fragmento de mangueira ou de uma árvore de fruta-pão; no entanto, quando o mesmo tipo de lama é filtrado através delas, desde as raízes até os ramos, um produto inteiramente distinto acaba por sair.
Esses toscos troncos de árvores que nos alimentam são, na realidade, exímios cozinheiros; a matéria-prima que utilizam não é mais do que aquela mesma substância que as crianças usam para fazer bolinhos, de lama. O melhor cozinheiro do mundo, que tivesse à sua disposição a maior variedade de condimentos e especiarias, jamais poderia converter lama na enorme variedade de delícias que obtemos das simples árvores. Se um cozinheiro algum dia pudesse fazer isso, seria um
Mágico. Na selva, nós estamos rodeados de mágicos.”
Palavras de Thor Heyerdahl, em Fatu-Hiva.

Viajando

“A vida é uma continuidade, sempre e sempre. Não existe um destino final ao qual ela esteja se dirigindo. Apenas a peregrinação, apenas a viagem em si já é a vida, não o chegar a algum ponto, a alguma meta -- apenas dançar e estar em peregrinação, movendo-se alegremente sem se preocupar com nenhum ponto de chegada.
O que você fará depois que chegar a um destino? Ninguém nunca fez esta pergunta porque todo mundo está empenhado em ter alguma meta na vida. Porém, as implicações disso...
Se você atingir de fato o destino final da vida, o que vem depois? Você irá parecer muito desapontado! Não haverá lugar aonde ir... você já alcançou o ponto de destino... -- e ao longo da viagem deixou escapar tudo. Era preciso deixar passar! Então, nu e plantado no ponto de chegada, você ficará olhando em volta como um idiota: qual era mesmo o propósito disso tudo...? Você esteve se apressando tanto, preocupando-se tanto, e este é o resultado final.”
Osho Rinzai: Master of the Irrational: Chapter 7

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Cajueiro de Humberto de Campus

“No dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda ainda cheirando a cal, a tinta e a barro fresco, ofereceu-me a Natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando os meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseira que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser uma árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas úmidas e avermelhadas, as quais eram como duas jóias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre.
- Mamãe, olhe o que eu achei! Grito, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o monstrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida. – Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca...
Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvores, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é uma língua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou.
O meu cajueiro sobe, desenvolve-se, prospera. Eu cresço, mas ele cresce mais rapidamente do que eu. Passando um ano, estamos do mesmo tamanho. Perfilamo-nos um junto do outro, para ver qual é mais alto. É uma árvore adolescente, elegante, graciosa. Quando eu completo doze anos, ele já me sustenta nos seus primeiros galhos, mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos braços o seu irmão de leite. Até que, um dia, seguro de sua rijeza hercúlea, não o deixa mais. Promovo-o a mastro do meu navio, e, todas as tardes, lhe subo ao galho mais empinado, onde, com o braço esquerdo cingindo o caule forte, de pé, solto, alto e sonoro, o canto melancólico da CHEGANÇA, que é, por esse tempo, a festa popular mais famosa da Parnaíba:
Assobe, assobe, gajeiro,
Naquele tope real...
Para ver se tu avistas, Otolina,
Areias de Portugal!
Aos treze anos de minha vida, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
- Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitando em despedida. E estou em São Luiz, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças...”.
Recebendo a carta de minha mãe choro, sozinho, choro, pela delicadeza de sua idéia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?
Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo...
Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste:
- Adeus, meu Cajueiro!
O mundo toma-me nos braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei BROBDINGNAG com a fragilidade do Capitão Guliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regressa a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo.
- Meu cajueiro, aqui estou!
Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem: ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono... Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco... Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, embaixo, a vasa e a podridão!
- Adeus, meu Cajueiro!
E lá me vou outra vez, e para sempre, pelo mundo largo, onde hoje vivo, como ele, som os pés na lama, dando, às vezes, sombra aos porcos, mas, também, às vezes, doirando de sol lá em cima, oferecendo frutos aos pássaros e pólen ao vento, e, no milagre divino do meu sonho, sangrando resina cheirosa, com o espírito enfeitado de flores que o vento leva, e o coração, aqui dentro, cheio de sol, e todo ressoante de abelhas!”
Humberto de Campos.

Do livro: -Árvore Amiga (Ecologia e História)
Raimundo de Oliveira Borges (Do Instituto Cultural do Cariri – Crato)

O que é SER livre

         Você pode se perguntar - o que este cara acha - o que é SER LIVRE? Você tem razão, é muito difícil ser livre na vida terrena, a condição humana está sempre nos levando para fora deste espaço. No entanto tenho certeza que em algum momento de sua vida você experimentou uma alegria sem nenhum motivo, saída do nada, um prazer nascido de sua solitude. É possível acessar este espaço no momento que a gente quer?
        Bem, deixe-me respirar um pouco. Ótimo!
                        Uma suavidade inundou o espaço interno, uma alegria veio ficar comigo, é muito suave. A pura suavidade de um SER LIVRE.
        Deixar que esta bemaventurança permeie todo corpo, abrir as mãos, doar - doar - doar...
                        Um espaço meditativo, puro orgasmo com toda existencia.
        É possível permanecer neste espaço por 24 horas? Não sei, não experimentei ainda, esta é minha busca, sem nenhuma pressa, aceitando a interferência da mente que sempre vem para nos afastar, sair do prazer de viver.
                         É uma experiência individual, compartilho com vocês porque tenho certeza que este é o destino de todos nós. Ser Feliz.
        Ser livre não depende das circunstâncias da vida, da presença dos problemas, do transcorrer do dia a dia. No meio do barulho, da confusão, do desespero, um pequeno espaço para uma respiração suave e de novo somos arremessados para o estado de bemaventurança. No começo demora, parece que estamos perdidos mas quando menos se espera vem um conforto não sei de onde, mas vem, para nos acalmar, suavizar, SER LIVRE.
         
                                      É o que estou experimentando e doando para você.
                                         
  N A M A S T Ê . . .


terça-feira, 10 de maio de 2011

Imagens guardadas...


Este é o jardim do meu pai, na casa do Sítio Flor, em Caririaçu-Ce.

Flores de Chorisia speciosa, uma árvore da família Bombacaceae.

Flores de ipê rosa, Tabebuia avelanedae, família Bignoniaceae.

Flores de Gmelina arborea, árvore plantada em Brasília.


O repouso em mim

Vejo tudo muito claro. É assim como o dia já alto, sol ardendo dentro de mim, abrindo espaços, sem nenhuma nuvem. Quando os dias são assim, a noite é um verdadeiro descanso. O repouso acontece por si mesmo...

Tua presença

Silencioso é o Teu caminho, suave é a Tua bênção, ameno é o Teu sopro criando vidas por todos os recantos. Te dou as mãos e saio por aí brincando de viver, olhando as pedrinhas no chão, colhendo a vida que é a Tua expressão. Deus meu, quando não me reconheço me afasto de Ti, aí sofro, choro, me desespero, tudo se transforma. Desaparece a vida das minhas mãos...

Apresentação



O importante é deixar que as coisas aconteçam e por aí o caminho vai acontecendo, se firmando, sendo. É assim, ser livre.