sábado, 21 de maio de 2011

Encanto do sentir...

Há uma luz, um canto,
            uma melodia.
O ouvir, o sentir, em leve brisa
            se encontram.

Há uma canção no ar.
            Aqui, no coração, o sentir
                        se encanta.

Pouso leve...

Bebe! Se tua sede é  tanta, bebe!
            Sente também! Abre teu peito!
                        Ergue tuas asas! Se deixa
            levar pela brisa e vai por
                        aí  espalhando amor.

             Este coração se entrega, não sabe
                        a quem, vive sorrindo, cantando,
                                    pousando no seu também.

            Oh doçura da manhã ! Sol amornando
                        a face! Olhar misterioso se
                                     encontrando! Não são vocês
                                                meu alimento?
  
            Sim, e muito mais. Em cada canto
                        uma nova nuança, um toque macio,
            uma suavidade chegando,
                        pousando de leve.

Prece...

Ah maravilha! Oh cálice transbordante
            de mistérios! Oh luz que me faz
                       ver o dia, que nasce a cada
            instante, na escuridão da noite
                        me acompanha, faz tanto
            tempo, e no atemporal se dissolve!

            Teus olhos me dizem o quanto a vida é,
                        expressam o sabor de tudo, em tudo
                                   o amor transpira.
            Diamantes, duas pérolas, a preciosidade das pedras,
                        olhos teus me mostram, me eternece, oro.

Se dar, sem nenhuma espera...

É muito divertido brincar de viver mas
                        assusta muita gente, da próxima
                                                       vez vou ter mais cuidado.
Me perdoa por ter aberto em tua
                        direção este coração que é
                                                  pura alegria, prazer,
                        um canto se dando todo.
Minha menina, não fique triste
                        assim, não feche suas pétalas,
                                                não esconda seu
                        perfume, pois é da natureza se
                                    dar sem nada prá
                                                 guardar, sem nenhuma espera.

Minhas loucuras...

                Minhas loucuras, estão aqui do lado, olho prá elas, me arrepio todo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

REMINISCÊNCIAS

         Há cinquenta anos, um pouco mais talvez, lá pela década de cinquenta, a meninada se preparava para as festas de fim de ano. Tínhamos apenas duas festas por ano em nossa cidade serrana, naquela pequenina Caririaçu: a festa do padroeiro em Junho e as festas de fim de ano. E era tudo para nós, uma espera sem fim.
         Ainda me lembro do Padre Linhares. Quando era criança cheguei a assistir missa celebrada por ele, gostava muito de crianças, e todo fim de ano fazia a festa do Bom Ponto. A meninada que frequentava o catecismo, se preparando para a primeira comunhão, que geralmente era no dia de Nossa Senhora da Conceição, dia 8 de Dezembro, recebia durante o ano todo uns cartõezinhos coloridos chamados Bom Ponto. Era uma espécie de prêmio por ter assistido às aulas do catecismo. Me lembro bem da minha catequista, minha querida Tia Isaura, com quem aprendi as primeiras rezas.
         No final do ano havia a festa do catecismo e aqueles Bom Pontos serviam para comprar brinquedos. Era uma festa animada e ainda me lembro de um presente que cheguei a comprar: um currupiu - era de celulóide, (era assim que chamávamos os objetos de plástico). Este currupiu rodava entre os dedos, enganchado por cordões e chegava a zunir nos ouvidos, produzindo um assobio até agradável para uma criança. O coração não se continha de alegria com aquele brinquedo tão simples e tão festejado.
         Nas festas de fim de ano a gente usava os calçados que haviam sido comprados na festa do padroeiro, eram os calçados de festas, só usados em ocasiões especiais. Os pais compravam os calçados para a festa do padroeiro ou para a festa de fim de ano. Não havia esta história de se ter mais de um par de calçados. Este luxo não acontecia nem mesmo para aqueles meninos filhos de pais mais aquinhoados.
         Para a compra dos calçados, meus pais levavam os filhos mais velhos para Juazeiro e os calçados dos mais novos eram comprados usando uma medida feita de tira de papel ou de pano, na medida do pé da criança. Me lembro como se fosse hoje minha mãe colocando aquela tira dentro do calçado para conferir a medida. A gente andava a rua São Pedro toda, de sapataria em sapataria, experimentado os calçados. Os pés grossos de pisar no chão o ano todo, ou de andar de alpercatas paraibanas, feitas com solado de pneu de caminhão e rosto de coro grosso. Muitas vezes, para ficar mais macias a gente costumava passar óleo cru. Juntava uma terra danada, as alpercatas ficavam vermelhas de tanta poeira.
         A compra dos calçados das festas já era uma festa. Uma viagem a Juazeiro era um grande passeio, com direito a picolé desses compridos. Em Caririaçu só existia picolé feitos em formas de geladeira, e naquele tempo a geladeira era movida a querosene. Não existia energia elétrica dia e noite como hoje. Quando a gente chegava de Juazeiro, contava vantagens para os que ficavam em casa. Cada mentira!!!
         Experimentar os calçados nas sapatarias e escolher o modelo era outro problema. Quando se gostava, até mesmo um sapato mais apertado a gente aceitava na hora da compra mas depois era um Deus nos acuda, um sofrimento por mais de um ano. O remédio era encher os sapatos de milho molhado, o milho inchava e o couro do sapato cedia, melhorando a pisada. Êta como fiz calo nos pés com sapatos novos. Era de não aguentar. Mas com careta e tudo a gente chegava na praça de sapato novo, brilhoso, meias bonitas, pisando com cuidado para não sujar, até o caminhado era diferente. E cada criança ficava mostrando o seu para os outros, se amostrando, como se dizia.
         Tem muita coisa para se falar de uma festa de fim de ano do meu tempo!

Conversando comigo...

Quase sempre perco a calma. Por coisas simples, banais, me atormento e em poucos segundo sou um furação, nem percebo.
Aí me vem um arrependimento, um sentimento de culpa, me aborreço, me afasto dos outros.
Me vejo tão estranho, uma outra pessoa, não me reconheço, sofro.

MEU ANIVERSÁRIO

         Nasci neste planeta há algum tempo atrás. Cheguei num tempo mesmo, num tempo que não existe mais. Se não existe mais este tempo é porque na realidade eu não nasci. Iniciei uma passagem por esta terra, uma jornada, e muito interessante. É bom quando se percebe, há um descanso quando se aceita, há uma paz quando se vislumbra sem nenhum apego o retorno.

         As asas que me trouxeram eram muito leves, suaves, planavam no espaço que não tinha fim e se fez presença num útero aquecido, morno, bem morno, de uma jovem recém-casada, muito bonita, cabelos longos presos do lado, finos, macios e muito brilhantes. Parecia uma menina, sem experiência, mas contida num amor que parecia eterno. Depois de algum tempo fui perceber que era minha mãe. É, quando a gente nasce, nasce de uma mãe, pessoa muito especial que nos acolhe como pode, sempre querendo dar o impossível para nos ver felizes. E eu era uma criança feliz. Vivia num sítio lindo, terra coberta de árvores, sombra que não acabava mais, logo ali, no quintal dos velhos jatobás.

         Aniversário, aniversários e mais aniversários, uma forma bonita de se comemorar o passar dos tempos, de contar a nossa passagem, de medir o nosso crescimento - flores colhidas no jardim da vida. Com espinhos, é certo, abençoados espinhos que nos ajudam a crescer, a prestar mais atenção na beleza das rosas, nas sinuosidades do caminho; algumas ladeiras, alguns vales, picos altos vencidos com temeridade e alcançados com o prazer da vitória.

         Meu aniversário, com bolinhas de soprar, bolo, vela, velas muitas agora, sopradas com o calor do ar que sai de dentro, quente como o coração que agora abraça os amigos que me fazem lembrar da beleza da vida, vivida sempre com presenças tão amáveis, flores embelezando a mesa posta para celebrar mais um ano nesta existência sem fim.

SENTIMENTO MATERNO.

               Não sei ser mãe, também pudera, nasci homem!
             Por que este pensamento meu Deus! Estou ficando louco? Acordo no meio da noite, fico sem dormir, só pensando, não sei ser mãe...
         Matutando, matutando, mergulhando profundo neste pensamento, me vem à lembrança o sentimento materno e aí me pergunto – por que não fui mãe quando a necessidade me pediu para que eu fosse?
         Espere aí, de novo pensando nestas coisas? O que está acontecendo?
         Mas acho que  minha consciência tem razão. Por que não fui mãe quando meu filho chorando me pediu o colo? E eu o neguei. Eu, uma pessoa importante, um homem de negócios, com um menino no colo? O que iriam pensar de mim?
         Vontade eu tive de tomá-lo em meus braços, acariciá-lo, fazer dormir aquele ser carente de um colo aquecido de mãe. Eu bem que poderia ter feito uma ação tão nobre... A vaidade não permitiu tamanho gesto.
         Por que este pensamento no meio da noite? Este tormento?
         Aí me lembro que certa vez meu filho chorava pedindo a mamadeira, sua mãe não estava e eu o fiz calar-se ameaçando com o poder de pai severo que eu era. E ele calou-se, de medo. E eu não fui capaz de fazer sua comida. Meu instinto materno bem que pediu, mas este sentimento é tão frágil, tão sem poder. Eu não o fiz...
         Aí começo a entender porque acordo agora, no meio da noite.
         Uma coisa chamada consciência, martelando dentro de mim. Me chamando à razão. Me cobrando uma ação mais sublime. Um ser mãe que habita cada ser humano, não apenas as mulheres, mas os homens também e que é necessário para que o mundo viva melhor. Uma mãe saberia cuidar melhor do mundo do que um pai. E por que o pai não deixa?
         Que pensamento mais louco! No meio da noite! Outra vez?
         Mas aí eu volto àquele instante em que meu filho me pediu para contar histórias para ele dormir e eu lhe disse que não tinha tempo, que precisava ver o noticiário da TV. Ele ficou ali, sentado a meus pés, agarrado com seu bracinho às pernas da minha calça. E dormiu, por cima do livro de histórias, esperando minha atenção.
         Uma coisa mais forte do que eu mesmo fez descer as lágrimas sobre minha face. Mais uma vez fui tomado pelo sentimento materno, um sentimento que chora e neste momento não pude segurar e chorei mesmo, me entreguei e pude ver que ainda há tempo. E percebi que o mundo está precisando de muito amor e só uma mãe pode dar.
        
         O amor não pede nada em troca. Ele é muito materno.

O Pássaro Cantador

O PÁSSARO CANTADOR

       Breno V. Machado

Certo dia apareceu em minha casa de Caririaçu um pássaro chamado galo de campina.

Ele estava com as penas das asas e do rabo arrancadas.

Eu e minha irmã chamamos mamãe e ela veio correndo vê o bicho.

Botamos o pássaro para dentro de casa, pois ele estava no quintal, era muito mansinho.

Pegamos e colocamos na gaiola para não fugir e os gatos não pegar.

Pois voar sem pena era difícil. Todos os dias é ele quem acorda a gente cantando alegremente.

Breno, meu filho mais novo, quando tinha sete anos escreveu sobre um certo pássaro que ele encontrou no quintal de casa. Compartilho com vocês os sentimentos desta criança e os cuidados que ela dedicou àquele ser indefeso e maltratado.

Ser Feliz no seu cantinho...

          Passei agora na Praça Padre Cícero em Juazeiro do Norte, cidade do interior do Ceará, região do cariri, coração do meu nordeste, palco vivo deste Brasil maravilhoso. Ser Feliz é sentir-se enraizado na sua terra natal, palmilhar cada recanto, abraçar amigos e sentir de perto o aroma do seu cantinho. 
          Compartilhar com vocês estes momentos é fazer acontecer o Ser Feliz que me visita sempre e sei que habita cada um de nós.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um caju, ali no chão...

           Um caju, ali no chão, piso feito de pedra partida, quadriculando a calçada de um imponente edifício. Caminhava nas ruas de Fortaleza, cidade menina quando ali cheguei, provinciana mesmo, com direito a cadeiras na porta da rua no final das tardes, pessoas tranqüilas, sem pressa, botando conversa fora.

         Ao dobrar a esquina da Rua Antônio Augusto com a Avenida Santos Dumont quase piso no caju. Fruto pequeno, castanha minúscula, contrariando a robustez da planta-mãe – árvore enorme, impossível abraçar seu tronco.

         O primeiro impulso foi chutá-lo. Senti dentro de mim a presença de um menino brincalhão, acostumado a dar pontapé em tudo que via sobre o chão. Contive o garoto e voltei no passado daquele cajueiro. Vi seu dono plantando uma pequenina muda, sonhando colher mais adiante deliciosos frutos. E colheu. Criou filhos que brincaram nos galhos do cajueiro, desafiando seus limites. Vi o suco descer sobre suas barrigas nuas e senti o cheiro de castanha assando sobre o fogo ardente.

         Dei mais um passo, olhei para trás, minha intenção era sentir de perto aquela planta, cajueiro velho, testemunho de muitas mudanças, plantado ali Deus sabe quando, guardando em si as saudades de seu dono, proprietário de uma chácara, um lote, um pequeno terreno, hoje piso de um arranha-céus, desconhecido seu, plantado um outro dia na mente criativa de quem o planejou. E o cajueiro sorriu com a brincadeira dos homens, fazedores de plantas sem almas, sem folhas balançando ao vento, sem o jeito vivo de sorrir e se encantar com a vida.

         Olhei suas raízes, estavam sadias, alguns cortes rasos na casca pelo descuido dos que fizeram a calçada. Mas fiquei satisfeito com o espaço que lhe reservaram, embelezando a Avenida Santos Dumont – um sonhador também, ousado na sua tentativa de voar com os pássaros. Aí ouvi o cantar de um sanhaço satisfeito com as delícias de um caju no pé, que acabara de bicar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

No confessionário...

               Encontrei minha amiga ali na rua e conversa vai, conversa vem, entramos no assunto religião. Ela é muito católica, destas que não falta a missa aos domingos e comunga regularmente. Alguns anos à minha frente, conhece todo mundo e costuma dar notícias de tudo e de todos. O papo com ela é sempre muito agradável e com frequencia muito engraçado.
              - Olha Wagner, disse-me ela, os padres atualmente estão apenas "remendando" a confissão, não ajudam a gente no confissionário, não perguntam nada, simplesmente ouvem os pecados. É muito sem graça, foi-se dos tempos!  A gente se confessa porque precisa, mas está deixando muito a desejar. Dias atrás eu estava me confessando com um padre novo, até me animei, mas, depois de algum tempo me fazendo perguntas parou de vez de falar, aquilo me pareceu estranho, será que já havia terminado a confissão? Tive a curiosidade de olhar para ele e fiquei chocada, pois não é que o padre estava bem distraído atendendo o celular!

domingo, 15 de maio de 2011

Uma orquidea para você.

Foto de uma orquidea que eu dei de presente a Claudiana, minha companheira, no dia do seu aniversário em 03 de abril de 2009. Quando as flores cairam, plantei a orquidea no tronco de uma árvore, no nosso quintal e todos os anos ela floresce nesta data. É a natureza presenteando minha companheira. Obrigado.

Comunhão...

As árvores me ensinaram muito,
            sempre que abri as portas ao
                              seu silêncio e me entreguei
                  ao carinho de sua sombra.
Quantas vezes cansado fui ao seu
            encontro, me deitei, deixei que o
                        corpo em comunhão encontrasse
            o repouso, não conto.
Árvore amiga, você um dia me recebeu
            exausto, depois de uma longa
                        caminhada, braços abertos,
                                                    folhagem densa.
Ainda bebi com as mãos em concha da
            água cristalina, pura, que corria
                        fresca, ali do lado do
            teu tronco.

Nascendo com as árvores...

É tempo de semear. Em cada vaso
            um pouco de terra úmida
                        e o presente que o fruto
            me deu.
Broto rompendo o solo, duas
            minúsculas folhas, talo verde como
                        sustento.
Vida vicejando,
            criando ramos, galhos, expandindo,
                        uma árvore chegando, sendo.
Em cada um de nós há uma
            semente assim.

Juazeiro, a árvore...

Um juazeiro verdinho,
            folhas recém-brotadas
                        dançam ao vento.
Cá fora, a terra seca.
            Lá dentro, bem lá no fundo,
                        a água do inverno passado
                                    banha suas raízes.
A cajarana seca, do lado,
            só olha.