quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um caju, ali no chão...

           Um caju, ali no chão, piso feito de pedra partida, quadriculando a calçada de um imponente edifício. Caminhava nas ruas de Fortaleza, cidade menina quando ali cheguei, provinciana mesmo, com direito a cadeiras na porta da rua no final das tardes, pessoas tranqüilas, sem pressa, botando conversa fora.

         Ao dobrar a esquina da Rua Antônio Augusto com a Avenida Santos Dumont quase piso no caju. Fruto pequeno, castanha minúscula, contrariando a robustez da planta-mãe – árvore enorme, impossível abraçar seu tronco.

         O primeiro impulso foi chutá-lo. Senti dentro de mim a presença de um menino brincalhão, acostumado a dar pontapé em tudo que via sobre o chão. Contive o garoto e voltei no passado daquele cajueiro. Vi seu dono plantando uma pequenina muda, sonhando colher mais adiante deliciosos frutos. E colheu. Criou filhos que brincaram nos galhos do cajueiro, desafiando seus limites. Vi o suco descer sobre suas barrigas nuas e senti o cheiro de castanha assando sobre o fogo ardente.

         Dei mais um passo, olhei para trás, minha intenção era sentir de perto aquela planta, cajueiro velho, testemunho de muitas mudanças, plantado ali Deus sabe quando, guardando em si as saudades de seu dono, proprietário de uma chácara, um lote, um pequeno terreno, hoje piso de um arranha-céus, desconhecido seu, plantado um outro dia na mente criativa de quem o planejou. E o cajueiro sorriu com a brincadeira dos homens, fazedores de plantas sem almas, sem folhas balançando ao vento, sem o jeito vivo de sorrir e se encantar com a vida.

         Olhei suas raízes, estavam sadias, alguns cortes rasos na casca pelo descuido dos que fizeram a calçada. Mas fiquei satisfeito com o espaço que lhe reservaram, embelezando a Avenida Santos Dumont – um sonhador também, ousado na sua tentativa de voar com os pássaros. Aí ouvi o cantar de um sanhaço satisfeito com as delícias de um caju no pé, que acabara de bicar.

Um comentário:

  1. Gostei muito! E você escreve muito bem! quando vi, a história já tinha terminado e eu até senti o cheiro do caju!

    beijos!!

    ResponderExcluir