quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Você é muito mais do que pensa que é...

          A vida emocional é constantemente muito agitada. Se você dá uma pequena parada e observa, dá para ver a agitação acontecendo. Isto gera um desgaste muito grande na energia interna, um desconforto, com prejuízo incalculável, comprometendo a qualidade de vida.
          O que fazer? A primeira coisa é se dar conta. Parar e observar, ficar um pouco de lado do que está acontecendo internamente. Deixar acontecer uma respiração profunda, mais uma, uma outra... Cada vez mais profunda. 
          De repente dá pra saber, experimentando, que você não é a agitação, você não é este desconforto, você é mais uma natureza pacífica, o mar interno está sereno. Isto é você. Procure sintonizar, sempre que possível, com este serenar interno. Pare por alguns segundos durante o decorrer do dia e encontre sua verdadeira natureza. Você começará a gostar mais de você mesmo, a se dar mais valor, a descobrir o prazer de viver, a beleza da vida.
          Você é muito mais do que pensa que é...

A verdadeira alegria é muito simples, é uma doçura...

          A maior bênção que o ser humano pode conquistar é a consciência de que é feliz. Quando criança somos felizes, de forma inconsciente, como os outros animais e as plantas vivem. Já adultos, sentimos uma espécie de nostalgia, um certo desconforto, algo desagradável, sem qualquer motivo, simplesmente porque perdemos a chave da felicidade.
          É importante encontrar esta chave. Ela abre uma porta de um lugar muito bem guardado, esquecido mesmo, que deixamos na infância, de uma época em que fomos felizes, mas não sabíamos. Conheço uma linda canção de Ataulfo Alves, que diz assim:


Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança

Aos domingos, missa na matriz
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí

Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?

Eu igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia



          Ser feliz de forma consciente é uma bênção e está disponível a toda pessoa que se envereda na busca do tesouro perdido. Nenhuma conquista se compara a esta que nos traz de volta a alegria de viver independente do que aconteça em volta. 
        Esta alegria que está comigo compartilho com todos vocês. Não me pertence, está em todo lugar...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Um passeio pelo campus... Rubem Alves.

          A Clivia, Laelia e o Bruno, meus três primeiros filhos, me acompanharam nos primeiros anos de minha vida de trabalho. Sempre gostei que eles participassem, quando crianças, do meu dia a dia. Por isto mesmo estão sempre me lembrando dos bons tempos que viveram junto do meu trabalho no Departamento de Parques e Jardins e na Universidade de Brasília.
       Recebi da Laelia, já tem algum tempo, um texto muito bonito escrito por Rubem Alves, educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp, e que repasso na íntegra para os amigos do Ser Livre.
                   “Gosto de passear pelo campus da Unicamp, domingos pela manhã, quando o tempo está bonito. Abril, maio, o outono começou, há uma grande tranqüilidade em tudo, o céu azul eterno, as cigarras e o seu zunir enchendo o ar, chamando parceiros para o amor, depois de longos anos que passaram ocultas no fundo da terra escura, o vento está discretamente frio, bom para empinar papagaios, os anus atrevidos soltam seus pios, e ao longe se podem ver os lagos, garças brancas nas margens. Nenhum ruído metálico perturba a calma da natureza, e de quando em quando se vêem crianças correndo.
            Acho que a vida deveria ser assim, um grande jardim, os corpos fazendo amor com os elementos fundamentais da natureza, o sol, a terra, a água, o ar. Porque para isso fomos criados... Não é por acaso que os mitos mais primitivos sonhos da humanidade, dizem que o Criador fez o universo inteiro só para poder, ao final, plantar um jardim. Não, ele não ficou vagando pelos espaços siderais, o céu das estrelas. Preferiu o jardim e andava por lá, gozando as delícias da brisa da tarde. O jardim é a felicidade de Deus, que deve se parecer um pouco com a gente, pois se não parecesse não teria encontrado o fim de sua criação na erotização dos olhos, dos ouvidos, da boca, do nariz, da pele: as cores das plantas, o barulho dos bichos, do vento, das águas, o gosto das frutas, o cheiro das ervas e da terra molhada pela chuva, o arrepio da pele tocada pelo vento frio.
            Quem não entende a linguagem do corpo pensa que a universidade está parada. Que ela acontece só nas salas de aula, nos laboratórios, nas reuniões dos notáveis. Não percebe que é justamente naquela calma tranqüila que ela revela o "para quê" da sua existência: a universidade existe só para ajudar os homens a transformarem os desertos em jardins. Nisto se parece com os mosteiros - universidades primeiras - que construíam seus prédios em torno de um espaço central onde havia uma fonte e as plantas podiam crescer: memórias do paraíso perdido, promessa de se reencontrar o caminho perdido, gozo provisório da felicidade, em meio ao deserto, utopia de um futuro com o qual a humanidade inteira sonha...
            Houve tempo em que universidade era só o lugar para se (de)formar profissionais. Ali entravam os moços, cheios de sonhos, e saiam de saber competente - engenheiros, dentistas, médicos... E quando os filhos recebiam seus diplomas, os pais se preparavam para morrer, missão cumprida, os filhos sobreviveriam, conseguiriam um emprego. O que estava em jogo era a sobrevivência individual de cada um.
            Mas agora sobrevivência individual é coisa muito pequena: a própria sobrevivência do país está em jogo - e até mesmo a sobrevivência da humanidade. É tolice ser um profissional competente se o barco em que se navega está afundando. A competência tem de ser maior, muito maior...
            Curioso que, em nossos programas, não existia nenhum lugar para simplesmente passear pelo campus. Pois não deveria? No jardim está a única justificativa para o sofrimento por que se tem de passar e a disciplina a que se tem de submeter no processo do saber. É preciso não esquecer o sonho, pois, se ele for esquecido, o sofrimento de aprender se torna sem sentido.
            Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardins por dentro não planta jardins por fora. E nem passeia por eles...
            Andar pelo campus é recuperar a memória, tomar consciência da única coisa que importa. O mais - ensino, pesquisa, invenções, descobertas - só tem sentido como ferramentas para o plantio e o cultivo do jardim. Mas muita gente aprende tudo sobre pás, enxadas, picaretas e esterco sem nunca chegar a sonhar com o jardim, que é a única finalidade de tudo isto. Brecht dizia que a única finalidade da Ciência é aliviar o sofrimento da existência. Acho que podemos ser um pouco mais otimistas: é criar também a possibilidade de prazer. A própria prática da Ciência pode ser também uma experiência de alegria. Uma das árvores do Paraíso era a árvore do conhecimento - cheia de fascínios...
            Roland Barthes nos lembra que uma das mais importantes atividades que acontecem na universidade tem o nome de seminário. Seminário vem de sêmen, e o sêmen só sai dos seus esconderijos internos numa explosão de amor e prazer...
            Andando pelo jardim é como se estivéssemos andando por um lugar utópico: ali reencontramos os nossos sonhos mais profundos e repetimos: "É assim que queríamos que o mundo todo fosse." Do jardim, lugar do amor, voltamos para a sala de aula e o laboratório, lugares do poder. Saber é poder. Sem o poder do saber o jardim não pode ser plantado.
            Mas as caminhadas, domingos pela manhã, deixam-me triste. Os jardins estão quase vazios. E por todos os lugares, os sinais de desamor dos que andam por ali: as garrafas sobre as águas do lago, os copos de plástico pela grama, os maços vazios de cigarro, latas enferrujadas de refrigerantes. Isso não aconteceria se aquele fosse um espaço amado. Aquilo que fazemos ao jardim revela aquilo que faremos ao espaço maior que habitamos, a cidade, o país. Naquela violência que se faz ao jardim (e no dia seguinte ao dia da Universidade Aberta o espetáculo é indescritível!) - lamento dizer - revela-se um pedaço da nossa alma que já se esqueceu de sonhar e nem sabe cuidar da beleza ao seu redor.
            Talvez que, ao lado de todas as práticas para se criar o necessário saber competente, seria necessário que nossas escolas se dedicassem à educação erótica do corpo e da alma. Sem amor ao pequeno espaço utópico do jardim não será possível esperar que o conhecimento venha, jamais, a ser usado para a construção do grande jardim. Como dizia D. Miguel de Unamuno, "saber por saber é desumano". Ou Ferenezi, um dos pais da psicanálise: "Tal conhecimento é um produto da morte, manifestação de insensibilidade e, portanto, manifestação de loucura." Não, o problema fundamental de nossa educação não está na falta de recursos. O problema está em que não sabemos mais sonhar. Recursos abundantes nas mãos daqueles que se esqueceram de sonhar só podem produzir a morte. Muito saber sem amor é estar possuído por demônios.
            É preciso voltar ao jardim para fazer ressuscitar a educação. O campus está lá, a cada manhã, como um fragmento de utopia. E se é verdade, como sugeriria o matemático Polya, que a solução de todos os problemas tem de começar do fim, eu sugeriria que fosse a partir do jardim que nos puséssemos a pensar no tipo de educação que temos de ter, para produzir coisa tão bela. Espalhar, no ar, num orgasmo de amor, as nossas sementes...”


O verde da minha vida, as paisagens em volta de mim...

       


Não sei se eu estou nas árvores ou se elas estão em mim, talvez as duas coisas...
Esta é a visão da janela do meu quarto, deixo que elas cresçam à vontade, aparo alguns galhos, o suficiente para abrir passagem.






Vamos dar um passeio pelo meu quintal, pelos lugares que costumo passar, pelo verde da minha vida. Vamos começar hoje uma caminhada, é o primeiro passo.






Estes ramos com folhas pendentes pertencem à Oliveira, aquela árvore de frutos arroxeados, pequenos, doces, que caem no inverno e deixam o chão de cor escura. Os sabiás e sanhaços gostam de bicar seus frutos, aparecem aos bandos na época do inverno, logo quando começa o ano. Esta árvore está no meu quintal. Gosto muito do sabor da oliveira. É conhecida também como Jambolão, mais para o sul do país.

Muito obrigado Senhor!

               O homem não pode viver de forma saudável distante da natureza. Ela é o reflexo de sua própria existência mais profunda. Me considero uma pessoa abençoada. Nasci num sítio plantado pelo meu avô, onde ele fazia questão de manter viva a mata em volta da casa onde cheguei ao mundo. Fui criança neste paraíso.
         Fui expulso do Jardim do Éden em busca do conhecimento, precisava "vencer na vida", ser doutor. Conquistei uma profissão, Engenheiro Agrônomo, fui trabalhar em Brasília, técnico responsável pela produção de mudas de plantas para implantação das áreas verdes e ajardinamento da cidade mais moderna do mundo, ela estava nascendo, isto se deu no início do ano de 1970. 
         Depois de dez anos cuidando do verde de Brasília, fui convidado para lecionar na Universidade de Brasília, nos Departamentos de Engenharia Agronômica e Engenharia Florestal, onde criei a disciplina Parques e Jardins e lecionei as disciplinas Dendrologia e Dasonomia, todas voltadas para o estudo e plantio das árvores e para os cuidados com os elementos vivos da paisagem. 
          O campus da UnB era todo arborizado e ali funcionava parte do meu laboratório prático de trabalho, onde lecionava sob as árvores, grande parte do conteúdo das disciplinas que lecionava. Aprender a reconhecer as árvores, papel importante dos estudantes de Engenharia Florestal nos primeiros semestres do curso. Ali eles tinham contato com as folhas, flores, troncos, cascas e todos os elementos dendrológicos necessários ao aprendizado. 
         Muitas vezes ficávamos sentados sob as árvores, preenchendo as fichas de reconhecimento das espécies, onde constavam todas as características importantes de cada espécie. Aprendia-se na prática, tocando, cheirando, visualizando cada detalhe importante que dava à planta sua identidade própria. Aroeiras, jatobás, amarelos, jacarandás, cássias, ipês, cambuís e uma infinidade de plantas, todas elas descritas e identificadas com a sua nomenclatura científica e nomes populares como eram conhecidas.
         Meu trabalho foi para mim o meu sustento e fonte de prazer. O meu laboratório eram as matas e cerrados da Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília, as áreas verdes do Campus e as áreas verdes da Cidade que ajudei a plantar. Sou muito grato à Existência por ter cuidado de me proporcionar uma vida de trabalho tão prazerosa. Posso dizer que cheguei ao Planeta como convidado especial de Deus. Muito obrigado Senhor!