Tenho uma amiga muito debochada, dessas que faz do deboche sua expressão vital. Sua alegria e sua tristeza se confundem, não sei quando começa uma e termina a outra. A tristeza por conta de umas dores que sente pelo corpo e que está sempre a reclamar.
Eu estava cantarolando uma música do Noel Rosa ... o maior castigo que te dou é não te bater pois sei que gostas de apanhar...
Foi aí que minha amiga me interrompeu.
- Seu Vavá, logo que me casei eu apanhei muito do meu marido, mas eu não gostava não. O desgraçado vivia embriagado e por qualquer coisa metia ã mão na minha cara, sofri demais, ainda aguentei dois anos de sofrimento.
- E como se livrou dele, perguntei.
- Me separei, foi o jeito. Mas sabe seu Vavá, depois que passei uns tempos só, comecei a namorar.
- Ainda bem que você não ficou remoendo o sofrimento, lhe disse.
- De jeito nenhum. Comecei a namorar com homem casado.
- Com homem casado? Me surpreendi e não entendi também.
- Seu Vavá, num tava mais querendo homem na minha vida, me dando trabalho. O Sr. sabe, o cabra casado chega todo cheiroso, amoroso, dengoso, todo derretido, carente. Menino! Só vendo! E sabe seu Vavá num tava mais querendo lavar cueca suja de ninguém não. Depois, o homem casado quer manter segredo das escapulidas e era o que eu mais queria também. Sempre dou conselhos a minhas sobrinhas prá se arrumar com homem casado, não tem coisa melhor. Sabe seu Vavá, quando o homem se apaixonava e queria mudar para minha casa eu despachava logo.
- Lavar cuecas de macho na minha vida, nunca mais!
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