terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tadinha da bichinha!

               Gosto de falar dos meus bichinhos, contar um pouco de suas histórias. Certo dia cheguei em Brasília para uma visita a minhas filhas. Nesta época elas não estavam casadas, moravam com a mãe, numa casa no Lago Norte. A Laelia estava com uma cadela mestiça de pincher, muito agitada, não parava num canto. Este animalzinho havia sido encontrado todo mutilado na margem da pista entre o bairro onde moravam e o centro da cidade. Estava muito danificada e minha filha logo a levou para uma clínica veterinária para socorrê-la.
               Não precisa dizer que a Laelia estava muito aflita com a situação da bichinha. Sofria muito com o estado de saúde do animal, ela sempre foi muito apegada aos bichos de estimação, tivemos alguns ao longo do tempo que moramos juntos. 
               Nesta minha viagem a Brasília ela procurava uma pessoa que quisesse adotar a cachorra. Já havia colocado cartazes nos pontos estratégicos do bairro, avisado a amigos, feito uma boa divulgação. Ninguém aparecia, ou quando viam o animal, sem qualquer beleza estética, agitada, uma orelha meio dobrada, o rabinho torto, davam meia volta, não levavam. A mãe da Laelia nunca gostou de animais em casa, já não aguentava o estado de sujeira e cheiro forte, que se espalhou pela área de serviço de sua casa e invadia a cozinha, sempre que se abria a porta. Laelia cada vez mais preocupada com o futuro do animal.
               Sou daqueles pais que quer fazer tudo pelos filhos, sofro quando eles não estão felizes, quero sempre dar um jeitinho nos problemas deles. Este era um grande problema que a Laelia estava passando no momento. Aliado a isto, gosto muito de animais e pensei logo em dar um jeito naquela situação. 
               - Se você quiser, levo a bichinha comigo para Caririaçu, disse para a Laelia. Ela não se conteve de alegria. 
              - Pai, você leva? Ainda ecoa em mim estas suas palavras, carregadas de alívio e ao mesmo tempo cheias de saudades. Ela havia se apegado muito àquele ser.
               - Só tem um problema, o nome da cachorra. No Ceará o povo não costuma dar nome de gente a animais, e aí, como fica? Logo Maria! Foi este o nome que a Laelia lhe deu. Lá em casa minha mulher chama-se Maria, quase todas minhas irmãs têm Maria no nome, como vou explicar que o nome da cachorra é Maria? Esta era a minha preocupação.
              - Pai, quando me vi naquela situação, temendo pela vida dela, vendo a hora ela morrer, de coração partido, fiz uma promessa com Nossa Senhora. Se aquela cadelinha escapasse, poria o nome de Maria. Ela escapou e recebeu o mesmo nome da mãe de Jesus Cristo.
              - Assim tá certo! Como lá o povo é muito religioso, eles logo vão entender, até vão se condoer com a situação vivida pela Maria, à beira da morte. 
              E assim aconteceu, quando me vêem chamar o bicho de Maria, se assustam, mudam logo de cara, mas tudo volta ao normal quando relato todo aquele penoso acidente, o sofrimento da Laelia e a fé que ela teve na Mãe de todos os seres vivos sobre a terra. 
              - Tadinha da bichinha! É o que sempre dizem.

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