sábado, 14 de janeiro de 2012

Cearense Caririzeiro, meu pai falava das experiências do meu avô...

Papai gostava de falar das experiências de seu pai, José Nogueira de Melo, Seu Zé Pereira. Nas páginas de um livro seu que ainda não foi editado, ele escreveu:
“É inteiramente impossível se escrever sobre um cearense Caririzeiro que durante toda sua vida foi sempre ligado a atividades agrícolas e pecuárias, descendente de três ou quatro gerações de agricultores, sem que se fale em experiências sobre chuvas próximas, previsões de invernos bons ou ruins e finalmente tudo sobre chuvas nesse Ceará seco e sofredor. Todo cearense agricultor e inteligente, com seus 50 anos vividos e sofridos nessa terra é um bom profeta. Meu pai viveu suas experiências aprendidas e herdadas na lida diária com a vida. Eu também sou um agricultor e pecuarista Caririzeiro, com meus 81 anos de Ceará.
O vento quando começa a soprar firme e do norte em direção ao sul, deixa de fazer frio na Serra de São Pedro, o tempo fica abafado e calorento, dizia meu pai, é sinal de chuvas próximas. Muitas vezes ele e eu vínhamos a pé do sítio Flor, à tardinha, pelo caminho da Raposa. Ele várias vezes se abaixava, apanhava um pouquinho de terra e soltava no ar. Se a terra fosse levada pelo vento em direção ao sul, ele dizia satisfeito:
- Olhe, vamos ter chuvas nesses dias. Está fazendo calor também.
Essa experiência do vento e da atmosfera, ele começava a fazer no mês de setembro, quando as culturas permanentes como a cana de açúcar, as bananeiras e as fruteiras em geral estavam sentindo falta de terra molhada em suas raízes e estavam prestes a amarelar, suas folhas começavam a secar e cair. Quando o gado não encontrava mais folhas verdes para comer e começava a devorar a pastagem seca e fibrosa.
Os poucos e pequenos açudes existentes na época começavam a secar tornando-se escasso o precioso líquido, tão importante na vida das pessoas, dos animais e dos vegetais. A chuva chegava infalivelmente antes do fim do mês de outubro e tudo mudava para melhor. O gado começava a comer ramas verdes, cagar mole e engordar. Os pequenos cafezais se cobriam de flores novas segurando a carga para o próximo ano e tudo mais se tornava verde. Essa experiência continua dando certo".

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