quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lembranças da infância no Sítio Flor...


A casa onde nasci, no Sítio Flor, em Caririaçu.
 Meu pai construiu esta casa
antes de casar em 1942.
          Zé de Chicô era menino esperto, levado, desses que costumamos chamar de amigo inseparável. Todos os dias, bem cedinho, chegava para fazer parte da negrada que varava o dia em intermináveis brincadeiras. O Sítio Flor era um grande parque de diversões. De tudo tinha para ocupar a criançada. Das primeiras horas da manhã até o anoitecer.

Vista de quem se coloca na frente da casa.
Quando criança  me perdia em sonhos
 imaginários contemplando esta paisagem.
           Quando não se estava brincando, meu pai arranjava serviços, pequenas tarefas. Nos ocupava botando para carregar cachos de bananas de junto das touceiras até um local onde os animais pudessem encostar. Fazíamos mandados, principalmente quando faltava alguma coisa em casa e havia necessidade de se ir até a cidade. Minha mãe ainda cuspia no chão e o retorno tinha de acontecer antes que a saliva evaporasse. Muitas vezes íamos no lombo de um jegue, era bem mais rápido. A cidade ficava a 1500 metros de distância do sítio.
          Zé de Chicô tinha como tarefa diária botar água na casa da minha avó antes de começar a brincadeira, num jumento de propriedade de seu pai. Quando estava com preguiça, amarrava o jegue na noite anterior num ramo bem fino e o animal soltava-se com facilidade. No outro dia cedo dizia para o pai que o jumento havia sumido e que ia dar umas buscas pelas redondezas. Que nada! Ele passava direto para o Flor e de lá só voltava ao escurecer.

Açude onde a criançada tomava banho todos os dias.
           Ao chegar em casa seu pai o esperava com um chicote de couro cru, desses usados para chiquerar o bezerro por ocasião da ordenha. Uma surra na certa. Naquela época a peia era o pior castigo que uma criança recebia, justificada como uma forma de disciplina necessária para corrigir o menino. Não existia o Conselho Tutelar. Cabia unicamente aos pais conduzir os filhos pelo caminho da retidão. Na falta dos pais, os padrinhos ou um parente mais próximo. A madrasta e o padrasto eram muito temidos.
          No final do dia os amigos voltavam para suas casas e nós íamos se assear, ou seja, lavar os pés, pernas, braços e passar água no rosto e no pescoço, molhava o cabelo para pentear, ficar arrumado. Em seguida era servido a janta, já a luz de lamparinas. Logo mais dormir, cada um na sua rede. Havia o quarto das meninas e o quarto dos meninos. A casa era grande, bem espaçosa.
          Recolhia-se muito cedo no sítio, não havia energia elétrica e os adultos estavam muito cansados com a luta do dia e a criançada com as brincadeiras. Tirava-se a noite de um sono só.

Um comentário:

  1. Que beleza! acabei de olhar a casa do flor. Como foram bons aqueles dias de nossas infâncias vividos ali. Parece que acabei de encontrar um pedaço de minha vida que por certo deve ter ficado guardado naquele pedaço de chão. o seu texto diz tudo. Estou sentindo falta de uma foto do açudinho. Que belo lugar era aquele! Fiquei muito emocionado. Faz muito tempo que pisei aquele solo que nos fez tanto bem. Obrigado Wagner por ter me causado este momento de felicidade.

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