segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Paródias da vida quase real...quatro.

        O fundo do poço é onde Helena se encontra agora. Um estado psicológico confuso, próprio das situações embaraçosas em que nos envolvemos.
        A intenção da moça foi viver um grande amor, realizar um sonho, com começo, meio e fim. Se entregar e esperar do outro o mesmo compromisso. Na situação que se encontra ela não vê uma saída, só mesmo o amado poderia por fim a tanto sofrimento. A estas alturas nenhum conselho abre qualquer espaço à compreensão. A pessoa está num estado de cegueira tão intenso que se torna avessa a qualquer réstia de luz.
        Ela espera que o príncipe encantado a tome em seus braços e viva com ela o romance tão sonhado. Isto me faz lembrar aquela história que ouvimos contar quando criança, a Bela Adormecida. Bela só despertou quando o galante príncipe subiu numa torre quase intransponível e lhe deu um beijo na face. É uma coisa assim, um estado de sono, o fundo do poço. Um adormecer sem fim, a vida congela para algumas pessoas, esquecem-se de viver.
        Enquanto a pessoa está se torturando, questionando, insatisfeita, batendo nas paredes como se diz, a saída do fundo do poço parece mais fácil de acontecer. É a alma insatisfeita com a situação. Uma pequena luz muitas vezes é o suficiente para clarear o problema e abrir um espaço à compreensão.
        Isto me faz lembrar um grande amigo meu. Estava separado de sua companheira, mas não aceitava a situação. Eu conhecia os dois, ela uma pessoa maravilhosa, bonita também. Quando juntos fazia pouco caso da companheira, saía de casa sozinho para as noitadas e ela ficava cuidando do filho pequeno. Era uma mulher resignada. Sofria com a situação mas procurava viver o melhor possível, continha seus sentimentos para evitar discussões, brigas, desentendimentos.
        Certo dia ele disse pra companheira que estava saindo de casa, precisava dar um tempo, curtir sua liberdade. Conversaram, procuraram se entender, e amigavelmente a separação aconteceu. Passado algum tempo ele se arrependeu e quis voltar. Ela não o aceitou de volta, estava com a vida sossegada, mesmo tendo passado muita dificuldade para aceitar a solidão.
        Meu amigo ficou desesperado, lutou muito para que ela o recebesse de volta, fez de tudo. Ela parecia muito tranquila na sua decisão de não mais voltar. Ele sempre confidenciava comigo sua busca pelo entendimento, pedia para que eu interviesse. Costumava dizer que “no fundo, no fundo ela gosta de mim”. Ela não lhe dava qualquer esperança. Ele foi ao fundo do poço, bebia sem parar, o arrependimento o comia por dentro. Muitas vezes pediu para que eu conversasse com ela, eu o fiz, sem qualquer resultado que o satisfizesse. Ela estava decidida.
        Na última tentativa minha para unir os dois eu perguntei se ela estava interessa numa outra pessoa e sua resposta foi positiva. Daí perdi as esperanças de um final que atendesse aos anseios de meu amigo. Não tive coragem de dizer a ele e procurei por todos os meios dissuadi-lo de suas esperanças. Me dizia sempre que “no fundo, no fundo ela gosta de mim”, e que ele não ia desistir.
        Durou algum tempo esta situação até que um dia ele chega à minha casa muito triste, cabisbaixo, sem vida. E aí, o que aconteceu? Perguntei com brandas palavras. Ele friamente me conta que a viu num jogo do colégio do seu filho com um namorado. Estava radiante, feliz. Ele sofreu a vida toda por ter perdido aquela mulher, aquela que tinha tudo para ser a sua companheira por toda uma vida.
        Ele nunca saiu do fundo do poço mesmo tendo passado por momentos de falsas alegrias nos braços de outras.
        “Você não me ensinou a te esquecer” é uma música de Caetano Veloso que retrata muito bem o fundo do poço de uma pessoa numa situação amorosa semelhante à vivida por Helena e por este meu amigo. “E agora, que faço eu da vida sem você, você não me ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer e te querendo vou tentando te encontrar”...

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