domingo, 26 de junho de 2011

Nós não estamos preparados para a morte.

               Perdi minha irmã na melhor idade, aos cincöenta e nove anos. Ela não gostava de ir a médicos, portanto não fazia exames regulares de prevenção. Já numa fase bem adiantada da doença, quando as dores estavam beirando o limite do insuportável é que ela começou a procurar os recursos da medicina. Sentia dores na coluna, fez os exames recomendados pelo médico e começou a tomar remédios. Nenhuma melhora. Mudou de médico, mais exames, novas suspeitas levantadas, mais remédios, melhora passageira, recaídas insuportáveis. Só indo à capital, lá a medicina está mais adiantada, Foi um sofrimento a sua viagem. Ela não podia mexer a cabeça, qualquer movimento e a dor voltava. Foi de avião.
               Em Fortaleza minha irmã que é médica tomou todas as providências para que ela fosse atendida pelos melhores profissionais. Clínico geral inicialmente e depois os especialistas. Suspeita de câncer de mama. Diagnóstico confirmado, estágio cinco. Ela sofreu muito nas corridas para consultórios e laboratórios de análises. A dor apenas aliviada por remédios cada vez mais fortes.
               O médico chamou a mim e a minha irmã e nos disse que ela tinha no máximo três meses de vida. Foi um choque, ficamos abalados, escondemos dela o diagnóstico. Foi muito difícil disfarçar nosso estado emocional mas fizemos de tudo para lhe dar ânimo, esperança de cura. Aos poucos fomos dando conhecimento a toda família e aos amigos.
               O tratamento foi iniciado por aplicações diárias de radio terapia na região cervical para aliviar as dores do pescoço. Um sofrimento grande no percurso de automóvel da Aldeota para o Hospital do Câncer no bairro Rodolfo Teófilo. O carro bem devagar, quase parando, evitando qualquer trepidação. O pescoço protegido por um travesseiro e lençóis, o maior cuidado. Dez aplicações e pouca melhora em relação às dores. A doença avançando a passos largos. Ela queria viver. Repetidas vezes apertava minhas mãos e perguntava: - eu vou morrer? Como não tinha o que dizer, falava para que tivesse esperança em Deus. Era muito difícil lhe dar qualquer resposta, principalmente a que ela gostaria de ouvir. O tratamento radioterápico é muito traumatizante. Queimou sua garganta por dentro e por fora, lhe tirou o paladar e dificultou demais a ingestão de alimentos. A sobrevida que os médicos oferecem ao paciente neste estado é dolorosa, é um martírio.
               No dia do seu aniversário foi servido um almoço com pratos de sua preferência, queríamos que ela participasse, mas ela não provou nada. Ficou numa cadeira afastada da mesa e nós comemos um pouco, sem nenhuma satisfação. A comida não descia, não tinha sabor, uma tristeza só, difícil disfarçar. Foi assim o período de sobre vida da minha irmã, uma subvida para todos nós.
               Os assuntos das conversas tinham de ser interessantes procurando sempre lhe dar ânimo, vontade de vencer o sofrimento, aceitar também. Uma amiga veio algumas vezes lhe proporcionar momentos meditativos, com músicas suaves, ela gostava muito.
               Com todos os cuidados que tivemos para lhe dar um sobrevida o melhor possível, ela veio a falecer uns dois meses depois do diagnóstico, depois da primeira aplicação da quimioterapia.
              Oito anos depois de sua morte muitos pensamentos povoaram e ainda hoje martelam minha mente e eu não tenho respostas. Não teria sido melhor para ela e para nós que ela tivesse conhecido o seu diagnóstico? Ela não teria se preparado mais para a morte? Não teria feito recomendações para a família como proceder após seu falecimento? Resolver pendências, se despedir? Melhor a dúvida ou a certeza? Não sei e por não saber ainda hoje sofro com estas questões. O que você acha? Gostaria de compartilhar com os amigos estas minhas dúvidas, dê sua opinião.
               Estou trazendo este fato hoje porque no momento estou passando pela mesma situação. Uma pessoa muito querida está vivendo este drama, diagnóstico semelhante, promessas médicas de uma sobrevida com a quimioterapia. Vale a pena fazer? Quando o médico diz para deixar o paciente fazer o que quer, se satisfazer, sair do controle habitual é porque sua vida na terra está findando. E a despedida geralmente é muito difícil. Nós não estamos preparados para a morte.

3 comentários:

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  2. Muito triste. De alguma maneira todos passamos por situações semelhantes. O sofrimento é muito grande em ver as pessoas que amamos sofrerem tanto. Na maioria dos casos na fase terminal pra que quimioterapia. Imagine prolongar um sofrimento que já era tão grande. Só o tempo meu caro amigo para superarmos tanta tristeza. Minha irmã, passou por caso semelhante e, na realidade nem tinha condições emocionais para saber da doença. Mais adiante já nem percebia. Teve todo o meu amor e dos amigos. "Fica...fica na saudade..ficará eternamente em nossas lembranças...fica com Deus. Abraços meu querido. Sinto muito.
    Em tempo: Sua irmã se chamava Mase se não mostre pra ela, ela vai entender. Acho!!!

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  3. Muito triste. De alguma maneira todos passamos por situações semelhantes. O sofrimento é muito grande em ver as pessoas que amamos sofrerem tanto. Na maioria dos casos na fase terminal pra que quimioterapia. Imagine prolongar um sofrimento que já era tão grande. Só o tempo meu caro amigo para superarmos tanta tristeza. Minha irmã, passou por caso semelhante e, na realidade nem tinha condições emocionais para saber da doença. Mais adiante já nem percebia. Teve todo o meu amor e dos amigos. "Fica...fica na saudade..ficará eternamente em nossas lembranças...fica com Deus. Abraços meu querido. Sinto muito.
    Em tempo: Sua irmã se chamava Mase se não mostre pra ela, ela vai entender. Acho!!!

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